"O meu maior sonho é fazer
parte da Selecção Nacional"
Mauro Alexandre da Silva Almeida,
20 anos de idade. Profissional de Futebol. Nasceu em Viseu. Aí
começou a estudar com sete anos, e deu os primeiros "toques"
na bola aos nove, no clube da terra, "Os Repesenses", onde jogou
durante oito anos.
Aos dezassete anos de idade, foi jogar para o FCP, e aí esteve
como júnior dois anos. Emprestado por aquele clube, foi jogar,
na época de 2001/2002, para o Académico de Viseu.
Actualmente, é jogador, também emprestado pelo FCP, do Sporting
Clube da Covilhã.
Pelos Juniores do FCP tornou-se campeão Nacional de Juniores.
Ao longo destes anos participou, em algumas convocatórias para
as camadas jovens da Selecção Nacional.
U@O- Como vê o espírito dos adeptos
do Sporting Clube da Covilhã?
M.A.- Apesar de ser uma cidade extremamente fria, as pessoas são
muito acolhedoras e humildes. Mas, por vezes, somos um pouco criticados,
principalmente quando o clube perde, quer pelos sócios, quer pela
Imprensa. As críticas são compreensíveis, apesar
de eu nem sempre concordar com elas, pois o facto de uma equipa perder
não significa falta de empenho ou de garra... É sim, sinónimo
de infelicidade. Mas todos os outros clubes de futebol são vítimas
dessa atitude por parte dos adeptos.
U@O- A nível pessoal, o que espera desta
época no SCC?
M.A.- Esta época é tudo para mim
porque tenho feito
um trabalho acima da média. Joguei todos os jogos como titular,
o que não é fácil, visto estar na II liga e ter a
idade que tenho
"A distância da família custa
bastante"
U@O- Quais as qualidades que um bom futebolista deve ter? Há
alguém com esse perfil no futebol português?
M.A.- Criatividade, força, inteligência e humildade são
as características que considero essenciais para que um futebolista
tenha sucesso
O Figo reúne todas essas qualidades. Sou fã
dele, não apenas pelo futebol que exibe mas, também, pelo
grande senhor que é. É um homem que sabe estar, falar, e
é extremamente culto
Existem muitos jogadores que não
sabem gerir o dinheiro que ganham, pois são milhões, mas
o Figo sempre se preocupou em organizar o seu futuro, facto que o levou
a ter o património que, agora, podemos ver.
Na verdade, é de exemplos desses que precisamos, no futebol mas
também na vida.
U@O- Quantos aos sonhos, como são, tendo em conta que se encontra
praticamente em início de carreira?
M.A.- O meu maior sonho é fazer parte da Selecção
Nacional. Para mim representar o meu País é tudo. Em termos
de clubes, claro que, gostava de estar no FCP, que neste momento é
o meu clube, mas na II Divisão. Quanto a voos mais altos, gostaria
de alcançar a Liga Espanhola ou Inglesa. No entanto, tenho consciência
que será muito difícil atingir todos estes objectivos, pois
a concorrência é enorme
mas com empenho, humildade e
honestidade acredito que alcançarei tudo isso em breve.
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Entrevista a Mauro Almeida
"Já são poucos os que jogam por amor
à camisola"
A ambição de construir uma
sólida carreira futebolística e o sonho de jogar na Selecção
Nacional levam Mauro a abdicar de muitas outras coisas na sua vida.
Cedo teve contacto com as realidades do mundo do Futebol,
facto que determinou a sua forma de ser e de estar.
A ida para o Futebol Clube do Porto (FCP) foi "o pontapé de saída"
para uma nova carreira futebolística e a possibilidade de ingressar no
Sporting Clube da Covilhã (SCC). Os estudos superiores, por agora estão
parados, mas a esperança de retomá-los continua viva.
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Por Daniela Marques
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Urbi et Orbi- De que forma surgiu o convite do Sporting
Clube da Covilhã (SCC.) para jogar, visto pertencer aos Juniores do Futebol
Clube do Porto (FCP)?
Mauro Almeida- Bem,
depois de ter jogado no Académico de Viseu, emprestado pelo Porto, surgiu
a proposta de fazer parte do plantel do Sporting da Covilhã. O meu clube
não se opôs, dando-lhes o "passe" para eu poder fazer parte
da equipa. A decisão foi rápida visto que este clube faz parte da
II Divisão, o que é muito importante para a minha carreira.
U@O- Relativamente ao plantel do SCC, quais os reais objectivos da equipa?
M.A.- O motivo principal que move a equipa é a manutenção.
Depois, lutamos domingo após domingo, para atingirmos a Taça de
Portugal e vencermos o campeonato.
Estamos a fazer uma boa época, além das expectativas, e temos equipa
para ir em frente e vencer. O plantel do SCC é bastante humilde, unido
e muito trabalhador. Encaramos todos os dias de treino como se fossem jogos, tornando-os
competitivos, o que é bastante positivo pois sente-se o espírito
Todos
lutamos para o mesmo lado e com o mesmo sentido.
U@O- A adaptação a esta nova cidade foi muito ou pouco difícil?
M.A.- A minha sorte foi ter encontrado amigos, desde os colegas de trabalho
até à equipa técnica, daí a adaptação
se ter tornado mais fácil. O apoio do meu treinador do F.C.P e do meu empresário
também contribuíram para a minha rápida e completa adaptação.
Os meus pais são, igualmente, um elemento importante. Sem a força
e o entusiasmo deles, seria mais difícil chegar até aqui.
U@O- Já alguma vez se questionou se esta é ou não a melhor
escolha profissional?
M.A.- Sim
a única questão que coloco é se esta é
a melhor opção ou se a continuação dos estudos, nomeadamente
na universidade, seria melhor
mas já cheguei à conclusão
que esta é uma aposta ganha. Sempre tentei conciliar os meus estudos com
o Futebol, mas nem sempre é possível
Consegui chegar ao décimo
segundo ano, mas depois tive que fazer uma opção. No entanto, se
parasse de jogar Futebol para concluir um curso, nunca mais conseguiria retomar
o Futebol, enquanto os estudos poderei fazer mais tarde
U@O- O futebolista é visto, pela maioria das pessoas, como aquela estrela
que ganha muito sem fazer nada. Concorda com esta ideia?
M.A.- Não. O futebol é uma profissão muito desprezada
e criticada pelas pessoas, pois é uma das profissões onde se ganha
muito dinheiro. Mas esta vida é complicada
Para quem não sabe,
é muito restrita e exigente.
U@O- Como por exemplo?
M.A.- Não podemos sair à noite para nos divertirmos, nem tão
pouco estar com os amigos a determinadas horas; e temos a responsabilidade de,
aliás como qualquer outra profissão, de treinar todos os dias. Abdicar
de estar com a família para poder obter o sucesso necessário para
que esta vida ande para a frente
U@O- Então, de certa forma, torna-se complicado constituir uma família?
M.A.- Sim
ainda é cedo para eu pensar nisso
mas a vida de
futebolista é muito ambulante, agora estamos aqui, como depois estamos
em outro lugar. E nem todas as mulheres estão dispostas a saltar de um
lado para o outro, nem a depender monetariamente dos maridos.
A distância da família custa bastante, pois estamos longe de quem
mais gostamos para lutar por um sonho, que não sabemos se vai ser ou não
bem sucedido
é um risco. Mas eu arrisco
U@O- De uma forma geral, como vê o Futebol em Portugal?
M.A.- No nosso País, o Futebol tem vindo a evoluir, em certos aspectos,
mas tem pecado em outros, que acho cruciais para o desenvolvimento do nosso Futebol.
A actividade futebolística já não tem a tradição
que possuía antigamente, já são poucos os que jogam por amor
à camisola
Hoje em dia o futebol é um negócio de milhões,
que envolve todas as áreas e mexe com todas as pessoas. É o Desporto-Rei,
visto por milhões de adeptos e que move paixões. E é isto
que muitas vezes prejudica o espírito do futebol, pois tanto empresários
como dirigentes pensam em fazer fortunas à custa de sentimentos e desportivismo.
Daí que certos valores sejam postos de lado e isso, claro, que faz com
que exista a decadência no mundo do futebol. Mas, também, temos que
pensar na parte boa que ainda existe no desporto nacional
U@O- E que parte boa é essa?
M.A.- São os bons jogadores que existem e que lutam para manter os
valores e o espírito desportivo. Os quais merecem todo o nosso apoio e
respeito. É por eles que devemos continuar a acreditar que o futebol saudável
ainda é possível.
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