Jorge Bacelar

Escrevo estas linhas na ressaca do EnA!


Esta iniciativa surgiu sem planeamento, sem estratégia, aparentemente ao acaso. Porque um estudante da UBI decidiu fazer um filme de animação e, contra ventos e marés, fê-lo. Curiosamente, ou talvez não, o filme foi aceite em festivais de cinema. Até foi premiado num deles. Foi este filme, mais a dinâmica produzida pela sua aparição nos festivais e noticiários, que fez surgir a ideia de trazer até cá gente do meio da animação. Realizadores, argumentistas, críticos e estudiosos da matéria.
Organizamos o EnA! sem rede, sem qualquer garantia de patrocínios, sem sequer termos a certeza de obter o dinheiro necessário para o fazer…
E a coisa, inicialmente pensada para ser um evento doméstico, caseirinho, só para os amigos, de repente agigantou-se, e passou a ter uma dimensão - confesso! - assustadora. Mas o processo estava iniciado e já não havia como retroceder. Portanto, avançamos. Mendigamos dinheiro e patrocínios para compensar os convidados que vieram, sem excepção, de borla. No mínimo, como anfitriões, tínhamos de recebê-los condignamente, alojá-los e convidá-los para jantar.

Tal como se fez um filme contra ventos e marés, também o EnA! foi feito. E, num momento em que o pó ainda não assentou completamente, posso já avançar com algumas reflexões sobre o que se passou. Antes de tudo o mais, acho que foi notável o facto de termos durante três dias consecutivos, de manhã ao fim da tarde, mantido o auditório da Parada praticamente cheio. Foi notável a qualidade das apresentações e comunicações. O fatalismo divertido com que se encaravam os crashes do computador de serviço, o bom humor reinante. Durante três dias, a imaginação reinou em torno da Parada. Tivemos o privilégio de saborear a presença e o produto de mentes livres e criativas que partilharam com quem quis estar presente o seu saber, a sua sensibilidade, o seu espírito.
Outra consequência do EnA! aparece com a vontade já expressa por alguns alunos de concretizar projectos de animação. Alguns nem esperaram pelo fim do evento e já começaram a desenvolver trabalho. Até eu ando com umas ideias…
Mais: penso que a UBI obteve visibilidade com esta iniciativa. Notícias de jornal, entrevistas de rádio e televisão, além de divulgarem o EnA!, passaram a ideia de que na UBI se está a fazer coisas.

Tudo isto apenas confirma algo que estou farto de dizer: Não temos de ficar à espera dos subsídios, nem de que "haja condições"… haja vontade e teimosia, e as coisas acontecem.

Teremos de esperar algum tempo para nos certificarmos da pertinência deste entusiasmo. Mas para já, sou de opinião que valeu a pena.