Tem uma loja de produtos naturais e já
há mais de 15 anos que os vende no Centro Comercial da Covilhã. Não
tem do que se queixar. Os clientes são fiéis. O queixume, esse, é
dirigido ao "comodismo das pessoas" que não "estão
para andar a pé" e por isso não frequentam o Centro Comercial.
Maria de Lurdes Carvalho é das lojistas mais antigas e ainda que reconheça
que o Centro tem assistido a uma grande quebra, quer de clientes, quer dos próprios
lojistas, que se mudam para outros locais, resiste. "Não tenho razão
de queixa, mas se tivesse já me tinha ido embora", conta. Questionada
sobre o que tem levado muitos comerciantes a abandonarem o Centro Comercial, Maria
de Lurdes diz que a situação que aqui se passa é idêntica
noutros sectores. "Isto é como o comércio de rua. As pessoas
vão quando têm necessidade". Mas existe uma outra razão
para que a proprietária da loja de produtos naturais não abandone
o Centro. É o sentimento de família que une os que, tal como ela,
mantêm as portas abertas. "Entendemo-nos muito bem e somos bastante unidos",
afirma. Um sentimento partilhado por Ana Paula Carvalho e Amélia Cunha. A
primeira tem uma tabacaria, a segunda uma loja de abajours.
As escadas levam-nos para outro piso. A maioria das lojas estão fechadas.
O papel colado nos vidros mostra o abandono a que foram votadas. Com uma espreitadela,
dá para ver o correio amontoado. Esperam que alguém decida abri-las
de novo. O bulício de outros locais não invade o Centro Comercial
da Covilhã. Reina a calma. "Este Centro não é para passear",
diz Maria de Lurdes Carvalho.
O rés-do-chão é mais movimentado. Quem entra vai comprar o
jornal ou a revista à tabacaria de Ana Paula. Resolveu apostar neste negócio
e no Centro Comercial porque a renda não é elevada. Recorda com alguma
nostalgia os tempos em que "este Centro era o melhor de todos". Mas depressa
corrige o que diz. "Também era o único que existia".
Centro Comercial do Sporting: principal concorrente
Os anos foram passando. Outras grandes superfícies, mais modernas e apelativas,
abriram na cidade. "Muita gente nem sabe que existimos", confessa Ana
Paula. A seu lado está Amélia Cunha, que acena um sim. "Estamos
um pouco à margem", concorda a proprietária da loja de abajours.
Mas pelos vistos, já nem os alugueres acessíveis conseguem "segurar"
os comerciantes. José Dias Nicolau teve, durante 12 anos, uma loja no Centro
Comercial da Covilhã. Ainda lá está, mas encerrada. Mudou-se,
há cerca de três anos e meio, para o Shopping do Sporting. "Temos
que procurar o centro da cidade e o melhor local para vender", diz, acrescentando
que aqui "há mais juventude". Muitos outros seguiram o exemplo
de José Nicolau.
"Sairam daqui muitas pessoas que abriram lojas no Centro Comercial do Sporting",
declara Ana Paula, apontando esta como a principal razão de os clientes
se terem retirado. Assumem que não têm as melhores condições
e que "à vista" o Centro Comercial da Covilhã não
é tão apelativo como outros. É que os olhos também
"comem". Mas Carlos Alberto Santos, dono de uma barbearia, acredita
que "isto ainda vai mudar". É que a esperança é
a última a morrer.
Cai a noite. As luzes do "reclame" do Centro Comercial da Covilhã
deviam acender. Mas não. Estão estragadas. Esperam um orçamento
para voltarem a ser ligadas. Sentem-se um pouco à margem, mas nem por isso
desistem. Amanhã é um novo dia. A "anunciada morte" ainda
está longe. Quanto ao futuro do Centro, esse, segundo a maioria dos comerciantes,
está em lojas de escritórios e consultórios médicos.
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