"O Barrete de Guizos" pisa pela segunda vez o Teatro das Beiras. A
peça conta a história de um escriturário (Ciampa) que se
vê envolvido num plano engendrado pela mulher do seu patrão (Beatrice)
para provar o adultério do seu marido com a mulher de Ciampa. Nunca haverá
provas de adultério, e depois de Ciampa ameaçar defender a honra
com a morte da mulher e do patrão, Beatrice é acusada de loucura
e obrigada pela família a recolher a uma Casa de Saúde.
Esta peça escrita originalmente em dialecto siciliano, foi recriada na
língua italiana em 1917. "O Barrete de Guizos" é uma comédia
de ciúmes, honra, traição e loucura, onde Pirandello, com
a sua escrita lapidar mostra que o teatro é o espelho da própria
vida.
Maria Marrafa, actriz , que participou na peça com o papel de Beatrice,
afirma que "esta peça retrata as sociedades do início do século
XX, onde as convenções sociais eram tão presentes, e, hoje
as pessoas estão mais ligadas ao seu umbigo do que com o outro". A
Beatrice é um personagem que por imperativo das normas sociais, e com vista
a preservar a imagem familiar, fica passionalmente incomodada. A vida é
segundo Pirandello, "uma experiência grotesca, um espelho que nos devolve
uma imagem intrigante de nós mesmos", utilizando o teatro para nos
propor uma reflexão sobre as grandes interrogações do homem
e da vida. "O teatro é o espelho da vida. Um espelho que deforma a
imagem que temos de nós próprios, numa complexa teia de relações
humanas, partindo de uma reflexão de princípio, de que o homem é
um múltiplo e cada um à sua maneira tenta descobrir a sua verdade
e encontrar-se a si próprio", afirma Gil Salgueiro Nave, na brochura
de apresentação da peça.
Para Rogério Bruno, director da Companhia, o balanço deste festival
tem sido positivo, não obstante os fracos patrocínios deste ano,
nomeadamente da Câmara Municipal da Covilhã. "O teatro está
em risco de sobrevivência se o governo não accionar mecanismos de
apoios às companhias de teatro em Portugal", alerta, apelando à
população para não deixar este espectáculo desvanecer
do panorama cultural português. "Estamos numa era digital onde tudo
acontece a partir de um clique. O teatro não é assim, é uma
actividade artesanal", enfatiza.
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