José Geraldes


"Presidências Abertas" e Governo



Foi Mário Soares quem inventou as "Presidências Abertas". O estar encerrado no Palácio de Belém apenas num papel representativo não se enquadrava com o seu espírito de desejo de contacto permanente com as populações.
Por isso, no início do seu primeiro mandato de Presidente da República, em 1986, escolhe a cidade de Guimarães e aí se instala durante uma semana.
Que objectivos pretendia Mário Soares com esta iniciativa original ? A resposta é dada por ele mesmo: "Antes de mais, o objectivo de estabelecer um diálogo vivo com as populações e os diferentes poderes da sociedade e do Estado. Saindo de Lisboa, convivendo em profundidade com as populações, tenho procurado auscultar os seus sentimentos profundos, os seus anseios, necessidades, problemas."
Num balanço final, Mário Soares considera "as Presidências Abertas" "um dos factores mais positivos e úteis" dos seus mandatos. E enfatiza : "Funcionaram bem -e forma úteis- quando o Governo estava em alta e o País marchava sobre rodas. Serviram de almofada de amortecimento ou de válvula de escape em relação a problemas e a dificuldades reais sentidas pelas populações."
Jorge Sampaio retomou a ideia e, em tempo oportuno, pô-la em prática. Salta aos olhos que os objectivos não são diferentes.
E eis que passados 14 anos da "Presidência Aberta" feita na Guarda por Mário Soares, Jorge Sampaio repete a iniciativa.
Á semelhança do que fazia Mário Soares, o actual Presidente da República marca a agenda política falando de problemas que, através das televisões, adquirem um ressonância nacional. No caso concreto, põe o Interior Norte como tema prioritário da actualidade.
De novo, os problemas com que se debate o Interior, são objecto de intervenções. Mas desta vez com maior audiência, peso de voz autorizada e o acompanhamento de ministros do Governo.
Podem os problemas não serem resolvidos de imediato. Mas as assimetrias do desenvolvimento regional aparecem com maior destaque e visibilidade acrescida.
É toda uma região que centra as atenções do País durante uma semana com os seus aspectos negativos e positivos. Pela própria natureza da "Presidência Aberta", o negativo é mais salientado. Neste caso, até pela realidade das insuficiências do Interior que se impõe como facto a ser falado.
Quem ganha é a região. E não só. O papel do Presidente da República torna-se mais visível. E a sua capacidade para resolver conflitos sai reforçada.
Estrela Serrano que foi assessora da Presidência da República para a Comunicação Social, durante os dois mandatos de Mário Soares, analisou em tese de Mestrado as suas "Presidências Abertas". Uma das conclusões a que chegou é que " sem nunca assumir um discurso crítico contra o Governo, o Presidente deu a palavra ao povo (que se manifestava), permitindo o acesso (do povo) aos media."
O povo e os media reforçaram a "magistratura" de influência do Presidente da República que assim se tornou mais notória.
Esta é uma conclusão académica. Mas que corresponde aos factos. E que pode ter consequências para a acção governativa.
O Interior com esta "Presidência Aberta" de Jorge Sampaio tem uma "janela de oportunidade" para se fazer ouvir nos seus anseios. Pelo menos nas televisões e nos jornais.
Mas a sua voz tem de ir mais longe. E provocar decisões a nível do Governo. Para alcançar o desenvolvimento desejado.