Por Ana Filipa Silva



Desfiles para todos os gostos marcaram mais uma edição da Moda Lisboa*

O Convento do Beato, em Lisboa, abriu, mais uma vez, as suas portas aos devotos dos "trapos". No último fim-de-semana de Outubro foram apresentadas as tendências Primavera/Verão 2003 de alguns criadores nacionais e de dois designers imigrados em Portugal. "Interaction" foi o mote escolhido para a 19.ª Edição da Moda Lisboa.
A soturnidade do edifício ermitão foi apagada pelas cores quentes, como o vermelho que continua a vigorar, pela música de batida forte que esteve outra vez presente e pelo movimento constante de pessoas que afastou o silêncio religioso do beato. Oito alunos do curso de Desing Têxtil e do Vestuário assistiram à edição deste ano. Fernanda Carriço foi uma das contempladas e só teve pena de não poder assistir a todos os desfiles. "É muito importante para quem estuda a área da moda assistir a este tipo de eventos", salienta a jovem que espera que para o ano a Universidade da Beira Interior tenha uma participação mais activa no evento.
Pedro Santana Lopes, Presidente da Câmara Municipal de Lisboa- entidade organizadora, para além da Associação Moda Lisboa- , esteve presente na abertura do evento. Salientou o significado do conceito temático deste acontecimento nacional, afirmando que esse "supõe relação de movimentos, mistura, integração, mestiçagem- um sem número de encontros que traduzem a vida na Cidade". Para Eduarda Abbondanza e Mário Matos Ribeiro, coordenadores do projecto, trata-se de " mais uma ocasião para rever o belíssimo trabalho de designers mais estabelecidos e o de outros que estão agora a começar."


Dino alves surpreendeu o público com a encenação do desfile*



Tendências

As formas rígidas e o estilo militar começam a perder terreno. Renasce uma mulher pueril e homem descontraído, embora sempre bonitos e cativantes. Ana Salazar mostrou uma mulher que brinca com as medidas, ora uma grande flor com um pequeno biquini, ora um vestido longo extremamente decotado.
Do guarda-roupa elegante criado pela dupla Manuel Alves e José Manuel Gonçalves destacou-se um vestido cor-de-rosa bordado com borboletas vermelhas e brancas lembrando os tempos de Primavera, tanto no ciclo da natureza, como no ciclo da vida.
Xana Nunes, agora relações públicas do evento, voltou às "passerelles". Aleksandar Protich foi a razão. Pela irreverência do vestuário e da atitude das manequins, este designer, radicado em Portugal desde 1999, recebeu fortes aplausos. Um desfile apresentado no LAB, local onde se mostraram novas metodologias de trabalho, com uma noção mais experimental, como foi o caso de Lidija Kolovrat, também ela imigrada em Portugal desde de 1990. Esta designer natural da Bósnia utilizou nalgumas das suas obras tecidos invulgares que ao movimento das manequins marcavam presença pelo barulho que faziam. Estas desfilaram numa "passerelle" em cruz que no centro tinha um gira-discos antigo, tal como a música que soava naquele espaço.

Arrojados

Fátima Lopes vestiu as mulheres e homens com tecidos esvoaçantes em vermelho, preto, branco, cinzento, verde-limão e turquesa, para além de alguns tons de cor-de-rosa e laranja. Encerrou o desfile com a presença de Cléopatra, idealizada por si. Marisa Cruz desfilou com um vestido prateado, uma peruca morena de corte ao estilo egípcio e uma jóia de cabelo, com pendentes de 110 diamantes. Mais uma peça valiosa para juntar ao famoso biquini.
Dino Alves trouxe Jesus Cristo. Todos bateram palmas a tal feito. Este criador surpreendeu o público com a sua encenação constituída por dois andores. No primeiro, uma mulher. No segundo, supostamente aquela figura central da Bíblia. Sempre acompanhados por quatro estandartes vermelhos. A seguir deu-se lugar ao desfile, sem esquecer o guia "O Religioso e o Pagão", por isso os rapazes levavam coroas de espinhos na cabeça e as raparigas chapéus espampanantes ou trouxas de roupa.
Os desfiles mais concorridos foram os últimos. Miguel Vieira recebeu aplausos de uma assistência em "ecstasy". A sua apresentação, para além da de Katty Xiomara, foram as que decoraram a "passerelle". Esta foi tapada com terra e pequenos arbustos a simular um jardim- talvez à Beira Mar Plantado. Assim que as luzes se apagaram, a voz de Janis Joplin, com "Mercedes Benz", banhou a sala. Só após o fim da música, o desfile se iniciou sempre com o rock em fundo. A roupa coincidia com o espírito dos anos 70.
Ainda foram apresentadas as colecções Primavera/Verão 2003 da dupla Paulo Cravo e Nuno Baltazar inspirada no filme "O Paciente Inglês", de Osvaldo Martins que talhou as suas peças sob o tema "Ambiguidades", de Alexandra Moura recorrendo às "Memórias", de Luís Buchinho iluminado pelos "Sneakers" , de Anabela Baldaque guiada pelo "Criativo e Recreativo", de Katty Xiomara com os sentidos no "Green Garden", de Pedro Mourão com "Uma certa visão colonial da Índia" e de José António Tenente para os "Meninos e Meninas".


 






Guelra Cheia



A "Inter Action" começou com o Sangue Novo, a apresentação dos potenciais ilustres criadores nacionais. De 57 candidaturas iniciais de sete escolas de moda portuguesas, 30 foram chumbadas e 27 aprovadas. Filtradas numa segunda fase, surgiram os nove projectos a concurso: Ana Baeta, António Gracias, Cristina Pedro, Marta Iria, Pedro Cruzeiro, Priscila Alexandre, Ricardo Dourado, Sandra Valente e Vânia João Santos.
Fast Fashion/ Slow Fashion, que joga com a rapidez dos tempos modernos e a preservação da nossa tradição e identidade, orientou a imaginação das candidaturas avaliadas por Fátima Cotta (directora da revista ELLE, em Portugal), Paulo Macedo (Editor de Moda da revista Vogue, em Portugal), Isabel Costa (Editora da revista LuxWoman)e Veríssimo Mustra (Vicri). Este júri deu a vitória a Priscila Alexandre, da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, que concebeu as suas peças com a ajuda das empresas parceiras A.Saraiva, Romatex e Somelos Aktivewear.
Marco Mesquita, designer de 21 anos, foi vencedor do último Concurso Sangue Novo. Na 19.ª Edição da Moda Lisboa, acentuou o trabalho que vem desenvolvendo desde essa data, com uma apresentação muito feminina. Imaginou momentos de intimidade, de jovens mulheres, ao tomarem banho à antiga, com um balde e uma tina. Modelos de cabelo ensaboado passearam-se entre a assistência a ostentar tecidos de cores claras moldados aos sabor das formas do corpo.


*Fotos cedidas pela Moda Lisboa