José Geraldes


"Notável" Covilhã



A Covilhã celebra o seu 132º aniversário de elevação a cidade numa situação económica pouco exaltante, não só a nível nacional como a nível regional. Mas a "cidade-fábrica" já passou, em tempos idos, por muitas dificuldades. No entanto, o engenho e o espírito de iniciativa dos seus filhos acabariam por encontrar as soluções adequadas. Mesmo incompletas.
A indústria dos lanifícios, durante séculos, projectou-a para um lugar cimeiro no comércio internacional. Mas o facto desta indústria ser a única actividade principal confinou a cidade a limitações na sua expansão económica. A mono-indústria dos lanifícios acabou por impedir que a Covilhã se diversificasse, solidificando assim o seu futuro.
Havia e há um conjunto de potencialidades turísticas com base na Serra da Estrela. Muitas e oportunas iniciativas foram já tomadas, neste capítulo, embora sem os resultados que se desejariam. Mas não esqueçamos que o mercado do sector ainda não procurou, na proporção conveniente, estas paragens.
O filão da neve é sazonal. Se os nevões perduram, mantém-se um movimento excursionista de fim-de-semana que ainda usa o tradicional farnel. As ofertas de pacotes de estadias na Serra-Mãe começam a generalizar-se mas a procura não atinge os números ideais. O aparecimento de novas unidades hoteleiras é um bom sintoma.
Neste momento, a Covilhã encontra-se numa fase de crescimento urbanístico, embora desordenado. A actividade laboral já não tem, como base absoluta,os lanifícios. A cidade começa a ser mais de serviços do que da tradicional indústria. Nota-se uma diversificação, o que até se afigura um bem para o futuro.
A esta terciarização da Covilhã não é estranha a UBI com os seus funcionários e professores e igualmente as escolas do Ensino Secundário e do Ciclo Preparatório e outros organismos oficiais e privados.
Mas importa que a cidade caminhe para se tornar num pólo de desenvolvimento regional no futuro. Claro que aqui, com toda a verdade, deve-se equacionar o problema das acessibilidades.
A futura A23 abre novas perspectivas com todo o trânsito internacional a circular de Salamanca já com auto-estrada em 2004 em direcção a Lisboa. O projecto urbanístico do aeródromo e a construção da nova pista tem virtualidades de ligações aéreas sempre úteis. Já o adiamento de um caminho de ferro nas condições mínimas europeias é um ponto negro a eliminar o mais depressa possível. Não se compreende mesmo com uma auto-estrada o descuido de dotar a Região com uma boa ligação por via férrea a Lisboa ou ao Porto. O caminho de ferro nunca é dispensável. A todos os títulos.
O projecto da Comunidade Urbana a abranger o eixo Guarda-Covilhã- Fundão-Castelo Branco permite a exigência de novos equipamentos e novas infra-estruturas. E pode atrair empresários a investir na Região em sectores produtivos ou de massa cinzenta. Que é, afinal, do que precisamos.
A Covilhã tem à sua frente muitos caminhos de futuro.
Como os seus filhos souberam enfrentar os problemas do passado, também actualmente os grandes desafios do presente podem e devem ser vencidos. E não temos dúvidas sobre isso. A celebração de mais um aniversário de elevação a cidade é um estímulo e um impulso para os novos dinamismos. Para que a Covilhã nunca desmereça do título de "notável" que lhe deu D. Sebastião no ano da graça de 1570.