José Geraldes
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Exigência do mérito
A publicação do "ranking" das
escolas deu azo às interpretações
mais díspares. Em virtude da metodologia utilizada,
houve escolas que se sentiram injustiçadas. A Associação
Nacional de Pais não gostou e os sindicatos consideraram
a publicação dos resultados pouco útil
para o ensino. Para nós, é um direito os
portugueses conhecerem o grau de sucesso ou insucesso
das escolas dos seus filhos. E muito se pode e deve corrigir
a partir dos resultados obtidos.
Pode questionar-se a metodologia utilizada pelo Ministério
da Educação.
No ano passado, o Governo limitou-se a divulgar as bases
de dados com as notas dos alunos, deixando à Comunicação
Social a elaboração da classificação.
Este ano, o Ministério encomendou um estudo à
Universidade Nova de Lisboa introduzindo para além
das notas de exame, factores das condições
sócio-económicas dos concelhos onde se situavam
as escolas.
Mas registou-se uma anomalia : não se distinguiram
alunos internos nem externos nem as escolas com centenas
de alunos a ir a exame ou com um só aluno, factor
susceptível de alterar a classificação
no "ranking". Daí surgirem casos de escolas
a aparecerem em primeiro lugar por causa da nota de um
só aluno.
A ponderação dos novos factores acarreta
limitações, como reconhece o coordenador
do estudo, Sérgio Grácio. Ou seja, a análise
demasiado tecnicista acabou por falsear os objectivos
que se pretendiam dos resultados.
Estes defeitos não invalidam a sua publicação,
um acto de transparência que devia estender-se a
outros domínios da governação. E,
para lá destas limitações, as escolas,
os pais e os sindicatos dispõem agora de um material
rico para tirar conclusões em ordem a introduzir
as correcções julgadas necessárias
nas suas escolas. A divulgação do "ranking"
por si mesmo é já um acto educativo que
se deve manter anualmente.
Um dado interessante a reter diz respeito às causas
que deram o primeiro lugar do "ranking" ao Colégio
Manuel Bernardes, sediado em Lisboa, e onde a disciplina
de Religião e Moral é obrigatória,
um factor religioso que é fundamental no ensino,
como escrevia recentemente o insuspeito não-crente
Régis Debray na revista francesa Les Études.
Então, quais as causas do grau de excelência
do Colégio Manuel Bernardes ? Em declarações
às televisões, os seus directores atribuem
os resultados que lhes deram o primeiro lugar ao nível
de exigência e disciplina praticado na escola de
que são responsáveis. Exigência e
disciplina que anda pelas ruas da amargura no Ensino Secundário
e não só. Exigência e disciplina que
muitas famílias desconhecem nas suas casas. Exigência
e disciplina que põe em pânico professores
e responsáveis sociais. Exigência e disciplina,
palavras malditas na sociedade de hoje mas que, no passado,
formaram sábios e santos, heróis e cientistas.
E que, como se vê, no caso vertente, continua a
ser o segredo do sucesso escolar.
A ideia do sucesso fácil, sem esforço e
sem sacrifícios, na escola ou na empresa, não
passa de um mito. E de uma deseducação para
os jovens, homens de amanhã.
Sem exigência e sem disciplina, o ensino do Básico
ou do Secundário e do Superior está simplesmente
condenado ao fracasso.
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