"Se o Orçamento de 2002 foi penalizador,
o do próximo ano vai ser muito mais". Quem
o diz é o presidente da Câmara Municipal
de Belmonte, quando confrontado com o Orçamento
de Estado para 2003. Para Amândio Melo, o facto
deste OE "nem sequer permitir que sejam contraídos
empréstimos para obras co-financiadas pelos fundos
comunitários, põe tudo em causa". O
desenvolvimento dos concelhos, segundo aquele autarca,
pode estar em risco, bem como os compromissos assumidos
perante as populações. "Não
percebo porque é que as autarquias têm que
suportar tudo isto, se é certo e sabido que elas
gerem melhor os dinheiros que a Administração
Central", questiona Amândio Melo.
A intransigência do Poder Central face ao endividamento
das autarquias vai ao ponto de o ministro das Cidades,
Ordenamento do Território e Ambiente, Isaltino
Morais, alertar os municípios que esgotaram a capacidade
de endividamento para a impossibilidade de contrair novos
empréstimos em 2003. Uma situação
que não afecta a edilidade de Belmonte, uma vez
que, segundo Amândio Melo, a margem para endividamento
é "bastante folgada e considerável".
Caso idêntico se passa no município fundanense.
Manuel Frexes garante que a capacidade de endividamento
da Câmara ronda apenas 40 por cento dos 12 milhões
e 500 mil euros totais. "O OE2003, face à
situação em que o País foi deixado,
terá que ser naturalmente restritivo", declara
o social-democrata. "O caminho não é
cortar nas autarquias, o motor da economia pública
e responsáveis pela criação de riqueza
e aplicação de grande parte dos fundos comunitários",
defende Manuel Frexes.
Obras em risco na Covilhã
De facto, o Orçamento para o próximo ano
é bastante exíguo para os municípios,
de tal modo que vários presidentes de Câmara,
a nível nacional, vieram já dizer publicamente
que só têm verbas para pagar os salários
e pouco mais. O próprio edil da Covilhã,
Carlos Pinto, na última Assembleia Municipal, referiu-se
a várias obras cuja execução pode
estar em risco. Neste "cenário", o único
vereador da oposição na Câmara da
Covilhã, o socialista Miguel Nascimento, mostra-se
preocupado perante o endividamento daquela entidade. Situação
que o tem levado por diversas vezes a questionar essa
capacidade, que, na sua opinião, "já
está no limite". "Discordo frontalmente
que este rigor orçamental se faça sempre
à custa dos mesmos, dos mais fracos", considera
Nascimento, que vislumbra, por isso, um orçamento
da autarquia covilhanense para 2003 "nada expansivo".
Situação desmentida pelo vice-presidente
da Câmara. Alçada Rosa garante que "o
endividamento do município ainda não está
no limite". Recorde-se que a Câmara Municipal
da Covilhã, para se salvaguardar de um possível
corte nos fundos governamentais, contraiu um empréstimo
no valor de 12 milhões e 500 mil euros (ver edição
do NC de 12 de Abril).
Quanto às medidas restritivas do OE para o ano
que vem, o social-democrata também partilha da
opinião de que "as autarquias vão pagar
as culpas que não tiveram". "Esta fase
de enorme contenção de despesas não
é nada boa para os munícipes e diferentes
organismos que dependem da Câmara Municipal",
advoga, ao mesmo tempo que enaltece a "necessidade
de um esforço em prol da viabilidade do País".
A contestação e vozes de protesto a este
documento vêm inclusivamente dos autarcas que comungam
da mesma cor política que o Governo. A Comissão
Nacional dos Autarcas Social Democratas (ASD), reunida
na última sexta-feira, 4, no Fundão, exige
ao Executivo que "a capacidade de investimento das
autarquias locais seja mantida e reforçada".
A ASD solicita ao Governo que "pondere as medidas
na Lei do Orçamento de Estado 2003 no sentido de
aumentar a capacidade de obtenção de receitas
próprias por parte dos municípios".
As reivindicações daquela Comissão
pretendem inverter a "onda de desânimo"
causada pelo cenário actual.
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