Mais de mil trabalhadores das empresas Carveste e Nova Penteação
manifestaram-se na passada sexta feira, 11, na Covilhã. O protesto serviu
para denunciar o atraso no pagamento dos salários e para exigir que o poder
político e a banca tomem medidas que permitam a recuperação
e a continuidade das empresas. Aos cerca de 600 trabalhadores da Nova Penteação
juntaram-se mais de 500 da Carveste. A manifestação organizada pelo
Sindicato dos Têxteis da Beira Baixa (STBB) contou ainda com a adesão
de populares e comerciantes.
Ana Afonso, dirigente sindical, trabalhou 30 anos na Nova Penteação.
A empresa foi considerada até há bem pouco tempo uma das melhores
da região. Ana Afonso deixou de trabalhar há um ano nesta unidade
fabril mas continua solidária com os colegas. Sem hesitar, atribui a culpa
da situação que actualmente se vive "às sucessivas más
administrações". Acrescenta que só acredita na resolução
do problema "se o poder político intervir". Os operários
da "Nova" aguardam ansiosamente o ordenado do mês de Setembro
depois de terem sofrido atrasos sucessivos no pagamento dos salários. Para
complicar a situação, na firma há encomendas mas não
há verbas para a matéria-prima. Já ninguém financia
nada à empresa. Nem bancos nem fornecedores. Neste momento há uma
paralisação total dos trabalhadores e a actual administração
nada garante. Os operários mantêm-se em grupos na empresa mesmo sem
trabalhar. Temem que sejam retirados os valores existentes na "Nova".
Na Carveste, a situação é semelhante. O atraso no pagamento
dos salários é frequente. No que respeita ao mês de Setembro
apenas foram pagos, na semana passada, 200 euros a cada trabalhador. Luís
Fonseca, trabalha nesta confecção situada em Caria, no concelho
de Belmonte, há dez anos e diz não acreditar que a situação
melhore. Afirma que "tudo se deve à má gerência da empresa".
Propostas do Sindicato mantêm-se, mas a situação agrava-se
Todos os manifestantes percorreram várias ruas da cidade com cartazes
e palavras de ordem até chegarem à Praça do Município.
Os dirigentes sindicais entregaram um documento no Instituto de Apoio a Pequenas
e Médias Empresas (IAPMEI), na Câmara Municipal da Covilhã,
no BPI e no Banco Totta e Açores.
O documento foi, segundo Luís Garra, presidente do STBB, "mais uma
forma de chamar a atenção para a necessidade de tomar medidas urgentes".
No mesmo é referido um conjunto de propostas anteriormente feitas por carta
ao primeiro ministro. Subscrito por 20 autarquias da região o documento
visava a implementação de medidas de caracter excepcional para o
distrito de Castelo Branco. A criação de uma linha de crédito
bonificada à taxa de zero por cento destinada a empresas que o justifiquem,
a implantação de medidas que promovam o investimento e que combatam
as transferências de riqueza criadas no sector foram alguns dos pedidos
feitos a Durão Barroso que até à data não tiveram
resposta.
Segundo Luís Garra, "o governo está alertado para a situação
vivida nas empresas há muito tempo". O sindicalista acusa ainda a
banca de "actos criminosos que vão conduzir ao encerramento das empresas".
Os dirigentes sindicais foram recebidos pelo vice-presidente da Câmara Municipal
da Covilhã que garantiu "total solidariedade com os trabalhadores".
Alçada Rosa explica que "a autarquia vai tentar sensibilizar o governo
e outras instituições" no sentido de encontrar soluções
para o problema.
Só no último ano foram registadas 17 falências no distrito
de Castelo Branco. A situação atirou mil e 800 pessoas para o desemprego.
Belmonte foi o concelho mais afectado. Centenas de famílias foram atingidas
pela crise vivida no sector dos lanifícios e das confecções.
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