José Geraldes
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Praxe e integração
universitária
Com a chegada dos "caloiros" às universidades,
chega também o hábito das praxes. E o verbo
"praxar" conjuga-se só na primeira pessoa
do singular ou do plural conforme os casos.
A praxe impõe-se assim como tema de actualidade
jornalística. E é quase impossível
não opinar pela escrita mais uma vez sobre este
assunto.
A praxe deve ser das únicas inovações
portuguesas que não foram importadas do estrangeiro.
Todos sabemos como os portugueses, para parecerem modernos,
criticam tudo o que é nacional, mesmo sendo bom,
e importam de outros países modas e hábitos
que nada têm a ver com as nossas tradições.
Tal atitude resume-se na conhecida expressão de
Fernando Pessoa, "o provincianismo português".
A praxe que era apenas uma tradição de Coimbra,
com a multiplicação das universidades, acompanhou
a massificação do Ensino Superior. A maioria
das vezes, apenas no sentido mais negativo.
Afinal, qual é o objectivo da praxe ? Em termos
gerais, a integração dos novos estudantes
no meio universitário. Mas a sua aplicação
recorre a formas que se questionam se são as mais
válidas e úteis para a integração
dos novos alunos. Algumas dessas formas não têm
graça nenhuma resvalando para actos de mera estupidez.
E casos já houve de violência que foram levados
aos tribunais.
No acto da praxe, é o lado do domínio sobre
o outro que prevalece. É o poder exercido sem qualquer
contestação. É o posso, quero e mando,
de forma absoluta. A escritora Luísa Costa Gomes,
num artigo da Grande Reportagem, resume de forma lapidar
: "O que não se discute na praxe é
quem é que manda, e saber quem é que manda
em quem e como".
Aplicada assim a praxe, verifica-se um desrespeito pela
pessoa humana e pelos seus direitos fundamentais. O "praxado"
ou a "praxada" não pode recusar as ordens
de quem " praxa" sob pena de ser objecto de
represálias. E não se argumente com a existência
de um Código da Praxe. O que importa aqui são
os actos e não o que teoricamente está escrito
para defesa dos "praxantes" em caso de queixa
dos "praxados".
Para uma verdadeira integração dos novos
estudantes, a praxe não tem nenhum interesse mesmo
nas suas formas mais benignas. E não passa de um
mero divertimento que de lúdico nada tem. Antes
revela aberração e formas de mau gosto no
acolhimento dos "caloiros". E que por vezes
chega a ser um trauma.
Há formas bem civilizadas de integrar os novos
estudantes. E nem é necessário puxar muito
pela imaginação. Actos culturais, festas,
sessões de boas-vindas, encontros de esclarecimento,
constituição de equipas de ajuda na resolução
de eventuais problemas são meios muito mais humanos
para a integração no novo meio universitário.
Os "caloiros" habituados ao Ensino Secundário
e a viver no meio das suas famílias, ao entrarem
na Universidade, sentem-se desenraizados e estranhos no
novo ambiente. Daí que lhes seja proporcionado
um acolhimento de forte calor humano na etapa que iniciam.
Ora não é com actos de negação
da sua pessoa que tal acolhimento os enriqueça
humanamente. E os integre na Comunidade Universitária.
O primeiro dever de uma comunidade é acolher os
seus novos membros com respeito pela sua personalidade.
A praxe não realiza este objectivo. E só
dá uma imagem pobre da Universidade.
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