Através do dispositivo, é possível controlar o batimento cardíaco dos doentes
Cardiologia do Hospital atende 800 doentes por ano
Coração à espera de médicos

As doenças cardiovasculares são a principal causa de morte em Portugal. Só nos primeiros seis meses de 2002, o Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar recebeu 432 doentes. Apesar do equipamento moderno, a unidade continua a precisar de especialistas do coração.


Carla Loureiro
NC/Urbi et Orbi


O Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar Cova da Beira (CHCB) recebeu, nos primeiros seis meses de 2002, 432 doentes do coração. Este número significa uma média entre os 700 e 800 casos por ano. Os dados são avançados pelo director daquele serviço, António Peixeiro.
Uma semana depois da comemoração do Dia Mundial do Coração (29 de Setembro), os problemas cardiovasculares, tanto na vertente dos acidentes cerebrais vasculares (AVC's), doença coronária e esquémica do coração, continuam a ser a principal causa de morte em Portugal. Só no ano passado, o País assistiu a cerca de 41 mil mortes por doenças cardivasculares, das quais 21 mil por AVC e mais de nove mil por enfarte do miocárdio. Em termos mundiais, os problemas do foro cardiovascular contribuem anualmente para um total de 12 milhões de mortes e estima-se que, no decorrer de 2002, o índice de mortalidade directamente ligado às doenças do coração atinja uma percentagem alarmante de 40 por cento do total de óbitos em todo o mundo.
O diagnóstico regional não é melhor. "Não estamos muito longe das médias nacionais. A doença coronária e cerebro-vascular atinge, não só o País, mas também a Região", afirma António Peixeiro, salientando a hipertensão, obesidade, aumento do colesterol e tabagismo como os principais contribuintes do "volume tão grande de doenças coronárias".
Apesar das mais variadas campanhas de sensibilização, na opinião do director do Serviço de Cardiologia do CHCB, "as pessoas preocupam-se muito, mas fazem pouco. Sabem que fumar faz mal, que comer determinadas coisas também, que o exercício fisíco é essencial, mas na prática fazem exactamente o contrário". O sedentarismo também se apresenta como outro dos factores de risco, elevando Portugal aos maiores indíces da Europa. "O alcoolismo é outro problema associado às doenças do coração e ao qual a Região também não escapa", alerta António Peixeiro.

Ninguém concorre para a Covilhã

Mais de metade dos indivíduos que morrem por enfarte do miocárdio fazem-no antes de chegar ao hospital, não podendo já beneficiar dos avançados programas terapêuticos. Neste campo, o Centro Hospitalar está perfeitamente equipado. "Possuimos todo o tipo de material de cardiologia não evasiva, temos hipótese de implantar pacemakers provisórios e definitivos, tal como uma Unidade de Cuidados Intensivos bem apetrechada", declara o responsável do Serviço de Cardiologia. Deste equipamento destaque para a monotorização por telemetria, um computador que consegue monotorizar quatro doentes em simultâneo. Ao utente é-lhe aplicado um dispositivo que contabiliza os batimentos cardíacos e qualquer coisa considerada anormal é imediatamente visível no ecran.
No entanto, apesar de poder contar com o apoio do serviço homólogo do Hospital dos Covões e do da Universidade de Coimbra, segundo António Teixeira, o Serviço de Cardiologia do CHCB depara-se com a falta de médicos. "Precisamos, sobretudo, de recursos humanos. Neste momento, o Hospital tem capacidade para ter entre seis e oito profissionais nesta área, mas funciona apenas com dois", esclarece. E prossegue: "Só este ano já houve dois concursos, um para carenciados e outro para o quadro e ninguém concorreu". Aquele responsável atribui esta situação não só à carência generalizada de cardiologistas a nível nacional, mas também à falta de "bons meios de comunicação para as grandes cidades", especialmente para Coimbra, onde muitos dos doentes têm que ir para fazer exames.