António Fidalgo

Política universitária


Os tempos de crise não podem ser apenas tempos de queixas e lamentos. É nestas ocasiões que, impreterivelmente, deve haver uma reflexão e uma decisão sobre os fundamentos do que se é e do que se faz. A universidade portuguesa vive momentos difíceis. Longe vão os tempos em que era o santuário de uma elite minoritária, e passados são também os tempos em que os candidatos e os financiamentos abundavam. Hoje a universidade enfrenta a pobreza demográfica, a escassez financeira, e, talvez o mais grave, a indefinição daquilo que deve ser numa sociedade plural em que os canudos e os títulos se banalizaram. Existem muitos licenciados no desemprego e as pós-graduações, mestrados e doutoramentos, podem não ser mais do que mero entretém para quem quer adiar por mais alguns anos o estatuto de desempregado.
A universidade tem de se centrar naquilo que sempre foi a sua vocação primeira: a formação cultural e científica superior de jovens. Uma universidade tem de ser, antes de tudo o mais, e se necessário for à custa de todo o resto, uma comunidade de saber, de aquisição e de partilha, entre docentes e alunos. Não pode, e não deve, a universidade assumir funções, como de formação profissional, que não lhe competem e que acabariam com o tempo por desvirtuar a sua essência cultural e científica.
Voltar aos fundamentos, investigar e ensinar sem desfalecer, é isso que a universidade deve fazer. Sobretudo em tempos de crise.