José Geraldes
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O desafio da democracia
e dos valores
I-
11 de Setembro
O 11 de Setembro foi há um ano. O mundo começou
a equacionar o futuro de forma diferente. Hoje é
consensual que o terrorismo não serve a causa da
paz. E as posições extremas só conduzem
ao fundamentalismo e ao fanatismo.
A destruição das Torres Gémeas de
Nova lorque é um golpe diabólico para os
regimes democráticos. Tem a democracia com todos
os direitos que possui, como referia Churchil, o mundo
tornar-se-ia inabitável.
Por isso, a expressão é do prestigiado Le
Monde, "hoje, somos todos americanos". "Kennedy,
quando visitou Berlim, dissera: "Sou um berlinense".
Nesta evocação do dia negro do 11 de Setembro,
para além das lágrimas e do pesadelo, a
solidariedade leve ao desejo de que haja mais justiça,
seja erradicado o ódio, se eliminem as causas do
terrorismo e a verdadeira tolerância que não
é cedência, prepare o mundo novo. Mundo em
que coabite o "leão e cordeiro", segundo
a metáfora de Isaías. Para que democracia
vença todos os terrorismos.
II- O desafio das Jornadas Vocacionais
Ninguém duvida do contributo dos seminários
das dioceses e institutos religiosos para a sociedade.
E não só a nível nacional mas também
internacional. É oportuno narrar um facto passado
em França, país insuspeito em laicismo,
no concurso de admissão de um funcionário
num importante organismo do Estado. Entre centenas de
concorrentes foi admitido um candidato que havia frequentado
o seminário.
O júri aduziu, entre outras razões, que
o facto de o candidato ser ex-seminarista foi determinante
na sua escolha, quer pela educação recebida,
quer pela garantia de hábitos de disciplina e relacionamento
humano em relação ao perfil do lugar a ocupar.
Entre nós, o escritor Miguel Urbano Tavares Rodrigues,
também insuspeito, declarou numa entrevista que
os ex-seminaristas se incluíam entre os seus melhores
alunos em Letras.
E são milhares os que ocupam postos de responsabilidade
em ministérios, professorado, gestão de
empresas e inclusivamente nos partidos políticos
de todos os quadrantes.
Porque falar deste assunto agora? Muito simplesmente por
um acontecimento que hoje, 13 e amanhã 14 se realiza
na Guarda. Esse acontecimento são as Jornadas sobre
as vocações de consagração.
É um facto que os candidatos aos seminários
estão a diminuir. E há dioceses com problemas
gaves nos seus recrutamento. Claro que quando um jovem
opta pelo seminário, não significa que seja
um futuro padre. Mas o esforço no seu investimento
humano nunca se perde. E não é só
a Igreja que ganha mas também a sociedade.
Mas, com a diminuição dos padres, novos
desafios se apresentam à Igreja. E torna-se necessário
encontrar estratégias para que surjam os padres
necessários e devidamente qualificados para as
tarefas do mundo actual. Não que os padres tenham
de fazer tudo mas que sejam os suficientes para assegurar
as tarefas específicas que lhes competem para a
animação das comunidades cristãs.
Temos já os diáconos casados que desempenham
serviços decorrentes da sua ordenação.
Mas há muitas tarefas que os leigos podem e devem
fazer. E cada vez mais às comunidades incumbe uma
maior responsabilidade em assumir uma participação
activa nas paróquias e organismos diocesanos.
As Jornadas vão analisar a realidade vocacional
do País e elaborar um projecto de acção
pastoral a vários níveis. É o futuro
das comunidades que está em jogo. O desafio não
é fácil. A perda do sentido de Deus na sociedade
está presente. E a crise da família concorre
em grande parte para a crise das vocacões. E a
recuperação dos valores é pedra branca
neste trabalho.
O investimento em força nos jovens do ensino secundário
e universitário não pode mais ser adiado.
A situação de crise dos valores estimula
a esperança. E a lgreja já passou historicamente
por fases dramáticas que foram ultrapassadas. As
Jornadas podem ser um apelo e um compromisso a ulm novo
dinamismo na estratégia de vocação
de novos padres para os tempos do presente e do futuro.
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