Por Ana Maria Fonseca


José Aleixo numa praia em Timor

José Aleixo é docente do Departamento de Matemática da UBI. Em Maio partiu para Timor, em direcção a Díli, com mais dez professores, para passar um trimestre.
Na Universidade Nacional de Timor Lorosae, ensinou uma disciplina de matemática para as licenciaturas em Economia e em Gestão.
O docente da UBI encontrou "muitas carências a todos os níveis". Desde as instalações "tudo em estado de degradação", à formação e ao apoio bibliográfico, passando pelo recomeçar de um povo finalmente em liberdade. "É difícil recomeçar", refere, acrescentando que a maioria dos alunos que frequentam aquela instituição não são de Díli e "fazem um grande esforço para lá estar", às vezes meses seguidos sem ir a casa.
Dos cinco cursos ministrados por docentes portugueses ao abrigo deste programa, promovido pelo Governo português através da Fundação das Universidades Portuguesas (FUP), José Aleixo leccionava em dois, Economia e Gestão. Nestas licenciaturas encontrou alunos mal preparados.
"Os alunos em Timor foram habituados a professores indonésios e javaneses pouco exigentes, em que a avaliação era feita através de provas com consulta", sublinha, acrescentando que quando o professor era mais exigente, "tentavam obter boa nota oferecendo um animal, como um cabrito ou um porco. Se não resultasse, tentavam o dinheiro. Se mesmo assim o professor insistisse em não passar o aluno, era normal bater no professor", conta. "Foi muito difícil manter a ordem". Muitos docentes portugueses que leccionam em Timor ao abrigo deste programa só lançam as notas já depois de estarem em território luso.
José Aleixo diz que só tempo pode consertar o que está mal. "O povo timorense, como consequência do domínio indonésio que o inutilizou, foi habituado a não fazer nada", refere.

"Ir para Timor dar aulas não é o paraíso"

"Há muito espírito de rebeldia, uma herança que ficou do sistema indonésio. Nos últimos 25 anos o povo timorense foi oprimido, proibido até de falar português", aponta.
Como consequência da interdição da língua portuguesa, há uma faixa etária que praticamente não fala português, que atinge jovens com idades à volta dos 30 anos.
"Apesar de haver aulas facultativas de português, os alunos não as frequentam". Apenas dois alunos, no universo de 23 a quem leccionava, falavam o suficiente para servir de tradutores.
Embora haja outras licenciaturas ministradas por docentes timorenses, estas cinco licenciaturas só funcionam com docentes portugueses, todos ao abrigo do programa que dura dois meses, uma vez que o ano lectivo é constituído por quatro trimestres.
"Dois meses é pouco, quer para quem está a dar aulas, quer para quem está a receber. A adaptação demora bastante e não é positivo sair após dois meses. As pessoas também se desinteressam", sublinha.
"São pessoas com uma formação muito deficiente. Encontrei alunos muito interessados, mas mesmo esses com carências a vários níveis, desde a língua portuguesa a conceitos básicos", refere. Dos 23 alunos a quem leccionou uma cadeira de matemática, só passou um.
Cerca de 40 docentes de várias instituições de ensino superior portuguesas participam neste programa. Ao mesmo tempo que José Aleixo estiveram mais 10, sempre por dois meses, embora haja quem repita a experiência. Por cada ano lectivo são 44 professores de ensino superior e mais de cem do secundário que rumam a Timor.
"Ir para Timor dar aulas não é um paraíso, chega a ser desmoralizante porque não entendem português e nem matemática", assinala.