O sector da restauração parece estar a
reflectir alguma retracção económica
que o País atravessa e a Zona Centro não
foge à regra. Sousa Martins, presidente executivo
da Associação de Restauração
da Zona Centro (ARZC) revela que "se nota uma menor
procura, bem como um menor volume de vendas". "Não
há poder de compra, o que se revela preocupante,
quer na Covilhã, quer em todo o distrito de Castelo
Branco, por ser uma zona de passagem", acrescenta.
E a quebra na restauração é realmente
visível. Que o diga Amândio Mateus Fortuna,
proprietário de um restaurante em Caria, concelho
de Belmonte, que se queixa de uma quebra de mais de 50
por cento. "Desde o fim do mês de Julho e até
há uma semana atrás tem sido terrível",
conta o proprietário, que fica igualmente surpreendido
com o parco poder de compra dos emigrantes, "que
não vêm com o nível de vida que costumavam
vir". O cenário de crise está instalado
e os bolsos dos portugueses são, inevitavelmente,
afectados, levando a uma diminuição bastante
acentuada do poder de compra. No entanto, a abertura ao
trânsito do lanço entre Belmonte e a Guarda,
da A23, e que parte de Caria, no último sábado,
17, está a gerar um ligeiro aumento de clientes
no restaurante de Amândio Fortuna. O empresário
considera, porém, que "os responsáveis
pelo turismo deviam promover mais a zona". "As
pessoas, os turistas passam mas não ficam. Perguntam
mas é como se podem dirigir para outros locais",
remata.
E porque o turismo e restauração são
indissociáveis, o presidente executivo da ARZC
alerta para o facto de a região carecer de animação
para atrair pessoas. "Os destinos são para
fora da Zona Centro, porque não existe nada que
chame os turistas. A animação existente
está desfazada e há locais de grande interesse
histórico que nem um guia têm". E prossegue:
"Começa a ser um local para apenas uma fugaz
refeição".
O rol de queixas sobre a acentuada diminuição
do poder de compra e que se reflecte na restauração
continua. "Tenho verificado uma quebra acentuada
na ordem dos 30 por cento, principalmente a partir da
primeira semana de Agosto", revela António
Serra, dono de um estabelecimento de restauração
na Covilhã. Os seus habituais clientes foram de
férias e os turistas e emigrantes não estão
a compensar o negócio. "Antes pelo contrário".
Para o proprietário, "as pessoas, com as novas
regras económicas impostas pelo Governo, vêem
o seu nível de vida agravado" e por isso,
prossegue, "cortam em muita coisa e a alimentação
é uma delas. Agora ficam mais em casa e deixam
de ir comer ao restaurante, como era habitual". Situação
idêntica se passa na unidade de hotelaria e restauração
de Carlos Alberto, no Fundão. "De há
três meses a esta parte, temos tido uma quebra de
clientes na ordem dos 20 por cento e Agosto tem sido um
descalabro", conta o proprietário, apontando
o dedo ao aumento do IVA, bem como ao Euro, "pois
os preços subiram e o dinheiro não é
elástico". O facto de haver mais oferta do
que procura também se reflecte nas receitas. Carlos
Alberto, porém, não está pessimista
e ainda que o seu negócio observe uma certa diminuição,
não tem razão de queixa. "Temos uma
grande diversidade de serviços para oferecer aos
nossos clientes e eles sentem-se satisfeitos", conclui.
"Falta união entre os operadores turísticos"
A situação, segundo Sousa Martins, "começa
a ser preocupante quando já é sensível
e comensurável à vista". Mas se as
"culpas" poderiam ser somente atribuídas
à crise generalizada que se vive a nível
nacional, na opinião do responsável da Associação
de Restauração da Zona Centro, existem outros
responsáveis. "A falta de união entre
os operadores turísticos leva a que a grande diversidade
que existe na Covilhã, Castelo Branco, em suma,
em toda a Região Centro, não seja aproveitada",
acusa. Sousa Martins alerta para a existência de
"muitos senhores de quintas", o que leva a que
muitas vezes os atractivos da Região não
sejam mais promovidos e dados a conhecer.
As opiniões da restauração produzem-se
no momento em que o indicador de confiança dos
consumidores, em Portugal, é o mais baixo registado
desde 1986, segundo o Instituto Nacional de Estatística.
O pessimismo sobre o futuro da situação
económica do País assola os portugueses,
bem como as prespectivas de o desemprego aumentar. Já
em Abril, a União Europeia voltava a identificar
o nosso País como o Estado membro com a mais elevada
taxa de probreza.
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