Por Línia Saraiva e Marco António Antunes


O arquivo é um espaço amplo onde estão as publicações periódicas e algumas monografias reservadas

Covilhã. UBI. Manhã de Sol num dia de Primavera. A bibliotecária e os técnicos dirigem-se para os locais de trabalho. Vamos descer às catacumbas da biblioteca central. Encontramos gabinetes arejados, mas escondidos do público.
Joana Fonseca Lopes Dias, 32 anos, é responsável pelos Serviços de Documentação da UBI. Licenciada em História, é pós-graduada em Ciências Documentais.
"Hoje em dia o bibliotecário é um gestor da informação. Fazemos de tudo um pouco até somos telefonistas", refere e sorri. As funções de uma bibliotecária são também a classificação da documentação por áreas temáticas e a indexação da documentação através de palavras-chave que funcionam como descritores.
Se um aluno procura um livro vai à base de dados AS400, pesquisa por descritor e introduz a palavra-chave. "O trabalho de indexação é um trabalho mais intelectual. Trata-se de extrair de uma documentação, características que denotem parte do conteúdo", explica a bibliotecária.
A classificação é o enquadramento da informação por áreas do saber. Por exemplo, na área de Filosofia há diferentes sub-áreas como fenomenologia ou hermenêutica. "Fazemos a classificação num 'sistema caseiro' em articulação com os docentes dos cursos", declara.
Segundo Joana Dias, a biblioteca da UBI é um espaço onde dá vontade estar. "Temos equipamento adequado às mais variadas necessidades de informação: leitores de vídeo, leitores de DVD, scanners, microfilme, computadores e impressoras", sublinha. O principal objectivo de uma biblioteca universitária é "melhorar a qualidade de ensino". A bibliotecária salienta que "a informação disponível na biblioteca deve criar conhecimento".
A nova biblioteca central da UBI ainda está em fase de instalação. Alguns problemas subsistem e afectam funcionários e utilizadores. Mas Joana Dias garante que "o trabalho dos funcionários é resolver os problemas".
Um dos principais problemas é o ruído. "As pessoas esquecem-se que a biblioteca é um local de estudo. Não desligam os telemóveis, conversam e perturbam os outros utilizadores", acusa. O desrespeito pelo silêncio afecta aqueles que querem estudar.
A responsável pelas bibliotecas da UBI adverte que a "biblioteca não é um cibercafé". As novas tecnologias destinam-se a ajudar no estudo. A prioridade, no uso dos computadores, é "para quem realmente necessita de fazer trabalhos".
Os teclados dos computadores não estão configurados na língua de Camões. Situação que leva o utilizador a andar "às aranhas" na procura dos dígitos correctos. Joana Dias promete: "Os teclados serão substituídos em breve".
Outro problema são as impressoras que não funcionam. O usuário tem de transferir os ficheiros via email ou esperar, pacientemente, uma vaga para os poucos computadores com unidade de disquetes. Também, neste caso, a bibliotecária promete solucionar os atrasos.

Para Joana Dias, "as pessoas esquecem-se que a biblioteca é um local de estudo"



"Má imagem da biblioteca"

Livros em estantes, computador, impressora e muitos papéis. Estamos no gabinete de Olga Maria Farias Correia Melchior Abrantes, 47 anos. Responsável pelo serviço de empréstimo inter-bibliotecas, Olga Abrantes é técnica superior licenciada em Sociologia.
É possível pedir qualquer livro que não exista na biblioteca através de empréstimo inter-bibliotecas. Olga Abrantes salienta que "é bastante incómodo para os alunos a deslocação a outras cidades e universidades, quando podem ter o livro pela UBI". A responsável prova com dados estatísticos o desinteresse dos alunos e apela: "Os alunos devem informar-se sobre o empréstimo inter-bibliotecas.
Olga Abrantes explica o serviço de empréstimo. O processo começa com o preenchimento de uma ficha online no site da biblioteca. Depois surge a pesquisa. "Investigo se o livro está disponível em Portugal. A PORBASE é uma óptima base de dados que permite a pesquisa pela rede de bibliotecas portuguesas", explica. Se não existir na rede nacional, a socióloga procura nas bases de dados estrangeiras ou em sites que permitam o empréstimo.
"Os empréstimos de livros estrangeiros funcionam, na maior parte das vezes, com cupões pré-comprados - vouchers", refere Olga Abrantes. A técnica superior mostra os cupões. "Com os vouchers o pagamento é mais fácil, sem necessidade de pedir cheques ao banco", garante. A licenciada em Sociologia defende que "a formação dos alunos professores justifica um serviço de empréstimo gratuito".
Mas as rosas também têm espinhos. "Há alunos que não cumprem o prazo de devolução dos livros", lamenta. Um problema que "compromete o bom nome da UBI e dá uma má imagem da biblioteca".
Olga Abrantes faz a indexação dos livros de Sociologia. "Graças à minha licenciatura é fácil fazer a indexação", sublinha.
A socióloga realiza inquéritos junto dos leitores da biblioteca. "O objectivo é melhorar os serviços e dar resposta às expectativas dos leitores", destaca. O horário da biblioteca e o número de livros requisitados foram algumas questões colocadas aos utilizadores num inquérito realizado em 2000.
Olga Abrantes faz também a difusão selectiva da informação. Consiste em divulgar catálogos para os professores escolherem livros para a biblioteca. A técnica superior assegura ainda "outras actividades que contribuem para o enriquecimento do fundo documental da biblioteca".

Registo manual

Maria Tomás mostra a catalogação das publicações periódicas

Próxima paragem: gabinete de publicações periódicas. Secretárias, livros, computadores, três funcionárias.
Maria Helena Albuquerque Tomás, 46 anos, é técnica de bibliotecas e documentação (BD). "Faço a catalogação das publicações periódicas, desde a carimbagem, catalogação, introdução dos registos na base de dados e composição de ficheiros no sistema CARDEX", informa.
O sistema de ficheiros é ainda manual. "Introduzo os dados na PORBASE, que funciona também como base de dados para uso dos funcionários. Faço o registo manual num arquivo CARDEX, onde estão os registos das publicações periódicas disponíveis", esclarece. Outra tarefa de Maria Helena Tomás é o atendimento ao público e a organização das publicações periódicas no arquivo da biblioteca.
"A revista chega e é catalogada manualmente. Vou com a ficha à bibliotecária para ela classificar em termos de área temática. Depois introduzo os dados na PORBASE e no AS400 que é a base de dados acessível aos utilizadores", explica Maria Tomás. A etapa seguinte é a consulta dos utilizadores no arquivo CARDEX.
Maria Helena Tomás espera que a compra de um software para gestão de bibliotecas resolva os problemas de arquivo e tratamento da informação. "Por vezes é um trabalho cansativo estar a colocar a informação manualmente. Mas gosto do meu trabalho. Tudo se ultrapassa quando a vocação determina a escolha profissional", sublinha.
Para a funcionária de BD, o ruído da biblioteca perturba os funcionários e quem está a estudar. "A sala de leitura onde estão os computadores é ruidosa. O problema resolvia-se com a instalação dos computadores numa sala separada. Os alunos poderiam fazer as pesquisas sem perturbar funcionários e utilizadores", defende.
No mesmo gabinete está Sandra Marques Pinto, 34 anos, natural de Lisboa e moradora na Covilhã. É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas - variante de Estudos Portugueses e mestranda em Estudos de Informação e Bibliotecas Digitais no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa.
"Faço o tratamento das publicações periódicas e a difusão selectiva da informação. Sou responsável pelo acesso e registo das publicações online", salienta. Outra tarefa de Sandra Pinto é a reformulação da página online dos Serviços de Documentação. Um projecto em colaboração com o Laboratório de Comunicação e Conteúdos Online (LABCOM), que em breve estará na internet.


"O processo de aquisição de um livro é moroso e demasiado burocrático", sublinha Maria Ressurreição



No reino da burocracia

Gabinete de aquisições. Maria Júlia Mendes Vieira Ressurreição, 45 anos, é técnica profissional de BD e coordena o gabinete de aquisições.
"O processo de aquisição de um livro é moroso e demasiado burocrático", sublinha Maria Ressurreição. Tudo começa com uma proposta preenchida pelo docente e autorizada pelo presidente do respectivo departamento. A secretária do departamento controla as verbas e a proposta segue para a biblioteca.
Em seguida, elabora-se uma requisição de livros que regressa ao departamento para autorização de compra. A despesa tem ainda de passar pela contabilidade da UBI, em função do orçamento disponível para o departamento. A requisição de compra regressa ao serviço de aquisições para se fazer o pedido à livraria.
Um processo que pode demorar mais de três meses. "A solução seria diminuir a burocracia", defende Maria Ressurreição.
A compra de livros estrangeiros é ainda mais lenta e exige pagamento adiantado. "A UBI tem de comprar um cheque de divisas e remetê-los às livrarias estrangeiras. Só depois vêm os livros", informa a técnica de BD.
O serviço de compra de artigos está a cargo de Maria de Lurdes Reis Ruana, 42 anos. "Peço à Fundação para a Ciência e Tecnologia artigos de revistas e jornais. Os alunos e professores preenchem uma requisição para qualquer artigo nacional ou estrangeiro", explica. Neste momento, o serviço de artigos é gratuito.


Descobrir o livro

"Temos de descobrir as características que o livro apresenta em si mesmo e registá-lo manualmente", afirma Alda Raposo

Gabinete de catalogação. Três funcionárias garantem a parte física da documentação. É um trabalho manual que consiste em registar os dados explícitos dos livros.
Ao fundo do gabinete, está Alda Nunes Raposo, 50 anos, técnica especialista principal de BD. Um rosto que sugere uma grande vontade de conversar. Alda Raposo veio para o então Instituto Politécnico da Covilhã, directamente dos Açores, e por cá ficou.
"Temos de descobrir as características que o livro apresenta em si mesmo e registá-lo manualmente. O livro segue para a bibliotecária para indexação e classificação. Depois atribui-se uma cota e vai para as estantes", explica Alda Raposo. Quando os livros chegam à biblioteca o primeiro contacto é com a catalogação e o registo.
Ana Cristina Mateus Silva, 28 anos, técnica profissional de 2ª classe de BD, explica o processo de catalogação: "Fazemos o registo do livro, por exemplo, por título, autor, editora, ano de publicação e todos os dados que o livro apresenta. Colocamos o sistema de segurança com bandas magnéticas e carimbamos os livros".
Situado nas caves do edifício, o arquivo é um espaço amplo onde estão as publicações periódicas e algumas monografias reservadas. A biblioteca tem colecções de revistas e jornais desde a fundação do Instituto Politécnico da Covilhã em 1979. O arquivo divide-se em compras e ofertas.
Os técnicos profissionais da biblioteca asseguram o atendimento ao público na biblioteca central e na biblioteca do Pólo IV. Com a construção do novo edifício da Faculdade de Ciências da Saúde está previsto o aumento do quadro de pessoal da biblioteca.
No próximo ano lectivo, funcionará a pós graduação em Ciências Documentais. O programa do curso estará disponível brevemente no site dos Serviços Académicos.
Os Serviços de Documentação em números: 62 mil livros, 19 funcionários, 50 títulos de jornais, 2125 revistas e cerca de dois mil documentos no Centro de Documentação Europeia.
Joana Dias promete a resolução do problema crónico da biblioteca: "Vamos ser mais exigentes em relação ao ruído na biblioteca". A bibliotecária destaca que "há dias em que o ruído é insuportável" e defende: "A situação não pode continuar!"