Preservar os cesteiros e a sua arte, que pode estar em
vias de extinção, é a grande prioridade
da Junta de Freguesia de Gonçalo (Guarda), a poucos
quilómetros de Belmonte. Foi com o intuito de divulgar
o artesanato da vila, "que não deve ficar
no esquecimento em que está a cair", promover
a cultura popular, a música tradicional portuguesa
e gastronomia que o grupo "Os Sarrafos", em
colaboração com a junta e Câmara da
Guarda, promoveram no fim-de-semana o festival "Gonçalo,
2000 habitantes, 200 artesãos". Assim, durante
três dias houve muita música, a criação
de oficinas de cesteiros e a inauguração
de um monumento ao artesão, com peças em
vime feitas em tamanho gigante, que estão agora
numa rotunda à entrada da localidade. Para além
disso, no domingo, 4, tempo para um colóquio no
qual foi discutido o passado dos cesteiro e arte de trabalhar
o vime, o presente e o futuro que tal actividade poderá
ter.
Para o presidente da Junta, Pedro Pires, o objectivo primordial
deste colóquio foi saber o que as pessoas querem
que o artesanato represente no futuro da vila. "As
pessoas ainda não se aperceberam que a nossa arte
está em decadência" explica. Já
o animador cultural da Câmara da Guarda, Américo
Rodrigues, afirma que este festival "é um
exemplo para outros que se fazem no concelho. Serve para
reavivar as tradições de cada terra. Os
artesãos não vão deixar que a arte
do vime morra". Quanto ao historiador convidado para
falar do tema, António Cardoso, natural de Gonçalo,
explica que a cestaria "não é uma invenção
dos gonçalenses" e que esta actividade nasceu
da necessidade que as pessoas tinham em armazenar e transportar
alimentos. Esta remonta já aos romanos que, naquela
zona exploravam o estanho e chumbo. A cestaria também
terá funcionado como complemento à agricultura,
pelo que os cestos não eram vendidos. Porém,
a partir de 1810, explica António Cardoso, a cestaria
passou a ser uma profissão, tendo Gonçalo
atingido seu auge, na comercialização de
cestos, em 1960. Na altura havia duas empresas que albergavam
cerca de cem trabalhadores cada e, por dia, faziam-se
cerca de 400 contos na venda do produto final.
A aposta na divulgação
Porém, a partir daí a cestaria entrou em
decadência, as empresas fecharam e os cesteiros
são cada vez menos. Por isso, Américo Rodrigues
avisa que "não podemos ficar assombrados com
o passado. Temos que saber como salvar a arte da cestaria".
Segundo o animador cultural da autarquia guardense, é
necessário repensar-se o sistema de comercialização.
"Não faz sentido o artesão ficar fechado
na sua oficina. Tem que ter brio no seu trabalho e mostrar-se
em feiras de artesanato. É preciso tornar visível
a arte de Gonçalo". Américo Rodrigues
mostra-se mesmo a favor da criação de uma
escola de artes e ofícios na localidade, mas que
também forme as pessoas em marketing, divulgação
e comercialização. Para além disso,
apela a uma maior criatividade dos artesãos.
Quanto ao vice-presidente da Câmara da Guarda, Álvaro
Guerreiro, classifica o novo monumento como o símbolo
do reencontro das gentes de Gonçalo com a sua arte
e deixa uma boa nova à população:
"Na última quarta-feira, na AIBT, foi aprovada
a candidatura do projecto para o Centro Cultural de Gonçalo",
uma obra que terá o apoio de fundos comunitários,
câmara e Junta de Freguesia.
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