Por João Alves
NC/ Urbi et Orbi


Com a construção de cestos gigantes, na nova rotunda de Gonçalo, a Junta de Freguesia pretende perpetuar a arte dos cesteiros

Preservar os cesteiros e a sua arte, que pode estar em vias de extinção, é a grande prioridade da Junta de Freguesia de Gonçalo (Guarda), a poucos quilómetros de Belmonte. Foi com o intuito de divulgar o artesanato da vila, "que não deve ficar no esquecimento em que está a cair", promover a cultura popular, a música tradicional portuguesa e gastronomia que o grupo "Os Sarrafos", em colaboração com a junta e Câmara da Guarda, promoveram no fim-de-semana o festival "Gonçalo, 2000 habitantes, 200 artesãos". Assim, durante três dias houve muita música, a criação de oficinas de cesteiros e a inauguração de um monumento ao artesão, com peças em vime feitas em tamanho gigante, que estão agora numa rotunda à entrada da localidade. Para além disso, no domingo, 4, tempo para um colóquio no qual foi discutido o passado dos cesteiro e arte de trabalhar o vime, o presente e o futuro que tal actividade poderá ter.
Para o presidente da Junta, Pedro Pires, o objectivo primordial deste colóquio foi saber o que as pessoas querem que o artesanato represente no futuro da vila. "As pessoas ainda não se aperceberam que a nossa arte está em decadência" explica. Já o animador cultural da Câmara da Guarda, Américo Rodrigues, afirma que este festival "é um exemplo para outros que se fazem no concelho. Serve para reavivar as tradições de cada terra. Os artesãos não vão deixar que a arte do vime morra". Quanto ao historiador convidado para falar do tema, António Cardoso, natural de Gonçalo, explica que a cestaria "não é uma invenção dos gonçalenses" e que esta actividade nasceu da necessidade que as pessoas tinham em armazenar e transportar alimentos. Esta remonta já aos romanos que, naquela zona exploravam o estanho e chumbo. A cestaria também terá funcionado como complemento à agricultura, pelo que os cestos não eram vendidos. Porém, a partir de 1810, explica António Cardoso, a cestaria passou a ser uma profissão, tendo Gonçalo atingido seu auge, na comercialização de cestos, em 1960. Na altura havia duas empresas que albergavam cerca de cem trabalhadores cada e, por dia, faziam-se cerca de 400 contos na venda do produto final.

A aposta na divulgação

Porém, a partir daí a cestaria entrou em decadência, as empresas fecharam e os cesteiros são cada vez menos. Por isso, Américo Rodrigues avisa que "não podemos ficar assombrados com o passado. Temos que saber como salvar a arte da cestaria". Segundo o animador cultural da autarquia guardense, é necessário repensar-se o sistema de comercialização. "Não faz sentido o artesão ficar fechado na sua oficina. Tem que ter brio no seu trabalho e mostrar-se em feiras de artesanato. É preciso tornar visível a arte de Gonçalo". Américo Rodrigues mostra-se mesmo a favor da criação de uma escola de artes e ofícios na localidade, mas que também forme as pessoas em marketing, divulgação e comercialização. Para além disso, apela a uma maior criatividade dos artesãos.
Quanto ao vice-presidente da Câmara da Guarda, Álvaro Guerreiro, classifica o novo monumento como o símbolo do reencontro das gentes de Gonçalo com a sua arte e deixa uma boa nova à população: "Na última quarta-feira, na AIBT, foi aprovada a candidatura do projecto para o Centro Cultural de Gonçalo", uma obra que terá o apoio de fundos comunitários, câmara e Junta de Freguesia.