José Geraldes
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Incêndios e prevenção
A prevenção em tempo
útil impõe-se como uma medida política
urgente. E a vigilância das florestas deve começar
não quando surgem os incêndios mas no tempo
aprazado
Os incêndios são
como um rito que se repete todos os anos. Começa
o Verão e os fogos surgem por toda a parte. E até
já se começa a chamar bizarramente ao Verão
a época dos incêndios como se isso fosse
um facto natural.
Nos outros países também se registam fogos,
mas não com a proporção dos que se
verificam em Portugal. Será esta mais uma fatalidade
do País ?
É verdade que há muitos fogos devido a descuidos.
A falta de limpeza das matas aparece como outra das causas.
As deficiências dos postos de vigilância entram
no rol das facilidades com que os fogos são ateados.
Mas não restam dúvidas de que a maioria
dos incêndios se deve a actos voluntários.
Ou seja a fogo posto.
Parece que os incendiários se multiplicam como
cogumelos, transformando num inferno, em determinados
dias e a determinadas horas, várias zonas do País.
Antigamente argumentava-se que eram os madeireiros que
recrutavam os incendiários a quem pagavam por vezes
quantias irrisórias pelo lançamento dos
fogos. O objectivo consistia em comprar as madeiras também
a preços de saldo.
E perante os incendiários apanhados em flagrante
quais as consequências dos seus actos ? As sentenças
dos tribunais, na prática, são tão
leves que acabam por se transformarem num incentivo ao
atear de novo no ano seguinte os incêndios.
E quem acaba por cumprir totalmente as penas dos tribunais
? Uma ínfima minoria.
Os incêndios originam consequências nefastas,
não só para a nossa economia, como também
para a qualidade de vida a que temos todos direito. Vegetações
verdejantes dão lugar a paisagens calcinadas. As
condições atmosféricas degradam-se
com prejuízos para o clima.
Os solos perdem as características fundamentais
para a novas sementeiras. Uma das nossas maiores riquezas,
como é caso das florestas, que tem na exportação
valores de milhões e milhões de euros, sofre
uma destruição criminosa.
Quem paga aos incendiários sabe que uma floresta
leva anos e anos a refazer-se. E os sofrimentos causados
às populações, esses não têm
preço.
A reflorestação do País custa muito
caro ao erário público, isto é, a
todos nós, pois trata-se de verbas dos impostos
que pagamos.
A prevenção em tempo útil impõe-se
como uma medida política urgente. E a vigilância
das florestas deve começar não quando surgem
os incêndios mas no tempo aprazado.
Abrir estradas florestais é outra necessidade a
fazer no momento oportuno. Há sítios onde
dificilmente podem aceder os carros de combate aos fogos.
E, uma evidência de La Palice, os bombeiros precisam
dos meios indispensáveis para exercerem com eficácia
e prontidão os seus deveres,
desde auto-tanques a helicópteros. Sem meios técnicos,
por mais boa-
-vontade que haja, os soldados da paz não podem
apagar fogos.
Toda uma nova política respeitante aos incêndios
tem de ser posta em execução a curto prazo.
Caso contrário, como dizia Keynes, "a longo
prazo, estamos todos mortos".
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