Notícias da Covilhã/ Urbi et Orbi-
O que se sente quando se chega ao ponto mais alto da
Europa?
Carlos Tavares - Nós sentimo-nos cansados.
Um cansaço enorme como nunca tínhamos sentido
antes. A nossa equipa tinha 12 elementos e alguns chegaram
ao cume enjoados e com vómitos.
NC/U@O - O esforço é assim tão
grande?
CT - Normalmente não, mas nós apanhámos
mau tempo a partir de certo ponto e isso tornou o percurso
mais difícil porque não podíamos
parar para descansar, comer ou beber.
Quando chegámos ao topo não houve tempo
para tirar mais de duas ou três fotografias.
NC/U@O - Nem sequer tiveram tempo para apreciar
a paisagem?
CT - Estava muito nevoeiro e neve no ar. Por isso
era muito difícil ver o que quer que fosse. Aliás
as condições climatéricas estavam
tão más que, 600 metros mais abaixo, dentro
da casa abrigo, a temperatura era de 3 graus negativos.
NC/U@O - Que preparação é
necessária para se escalar o Monte Branco?
CT - Se se vai só para escalar o Monte Branco
pelo percurso "turístico", nem é
preciso muita preparação. A vertente não
é muito exigente e até há guias em
Chamonix, na base dos Alpes, que levam as pessoas até
ao cimo. As pessoas vão dormindo pelas casas abrigo
e, em pouco tempo e sem grande dificuldade chegam ao cume.
O que nós fizemos foi a face norte do Monte. Que
é um percurso muito mais exigente em termos físicos
e técnicos.
NC/U@O - Isso exige um maior planeamento. Estavam
bem preparados?
CT - As coisas foram muito bem pensadas. Para além
da experiência que reunimos ao longo da vida foi
preciso, nos dias que antecederam a subida ao Monte Branco,
fazer treinos de preparação. O responsável
da expedição, Pedro Pacheco, instrutor do
Clube Nacional de Montanhismo, delineou um programa de
treinos para diferentes dias em pontos diversos da montanha.
Aliás, essa parte foi das que mais agradou porque
ficámos a conhecer partes dos Alpes que são
menos divulgadas, mas que não deixam de ser bonitas
e interessantes.
Um momento de descanso no
ponto mais alto da Europa
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NC/U@O - Que tipo
de treino fizeram?
CT - Começámos por fazer climatização,
treinos para andar em cordada e para fazer salvamentos
no caso de algo correr mal. Passámos um dia
num glaciar a treinar.
Mas a nossa preparação começou
muito antes e teve várias etapas entre Dezembro
e Junho. Começámos na Serra da Estrela,
e passámos para vários picos em Espanha
antes de irmos aos Alpes.
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NC/U@O - Que tipo de treino fizeram?
CT - Começámos por fazer climatização,
treinos para andar em cordada e para fazer salvamentos
no caso de algo correr mal. Passámos um dia num
glaciar a treinar.
Mas a nossa preparação começou muito
antes e teve várias etapas entre Dezembro e Junho.
Começámos na Serra da Estrela, e passámos
para vários picos em Espanha antes de irmos aos
Alpes.
NC/U@O - Depois de uma experiência destas
que lições se tiram?
CT - No que me diz respeito, uma coisa é
certa: se lá voltar não quero ir ao Monte
Branco.
NC/U@O - Pela dificuldade ou porque quer fazer
coisas diferentes?
CT - Pelas duas razões. Porque é
extremamente difícil e porque gostaria de experimentar
outros percursos muito mais bonitos. Aliás, se
pensasse em voltar a escalar o Monte, faria-o novamente
pela vertente norte, mas com uma dormida a meio. É
a única forma de tirar partido, de poder apreciar
a beleza da montanha, porque subir tudo de uma só
vez, não nos dá tempo sequer para olhar
para trás.
De qualquer modo há percursos muito mais bonitos
e interessantes do que a subida ao Monte Branco.
NC/U@O - Agora que já esteve no cimo do
Monte Branco qual é o próximo objectivo?
CT - Costumo dizer que a Estrela é a escola
primária, as serras espanholas são o Ensino
Preparatório, os Pirinéus o Secundário
e os Alpes e o Atlas de Marrocos a universidade. O Everest
é um doutoramento. Mas eu não quero ser
professor doutor. A licenciatura já me chega.
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