Carla Loureiro
NC/Urbi et Orbi



A habitação de Odete Paiva está ameaçada pelo mau estado da casa vizinha

Odete Paiva vive sozinha numa casa que corre o risco de desabar. Em frente à sua habitação há uma outra que já ruiu e o único caminho que a possibilita de ir à rua desabou há três semanas atrás. "Tive que andar a retirar os escombros, senão ficava encurralada. Isto aconteceu de madrugada e parecia um terramoto", conta, revelando que este é o único caminho que tem para poder sair de casa. A proprietária do prédio onde Odete Paiva habita, com mais oito pessoas, já foi intimada pela Câmara Municipal da Covilhã, em Julho do ano passado, para deitar abaixo a casa que está em frente. No auto recebido pode ler-se que "o edifício de construção antiga de alvernaria de pedra e tabique apresenta degradação generalizada e cuja cobertura ameaça ruir". Perante este cenário, Odete Paiva só lamenta não ter possibilidades económicas para mudar de casa. O NC esteve no local e o que viu compara-se a um autêntico "castelo de cartas". Também o terraço do Centro Social está ameaçado pelo desmonorar dos telhados de duas casas em frente e em dias de vento as chapas de zinco já voaram e vieram cair nas claraboias do edifício.
Confrontado com situações destas e com toda uma Zona Histórica cheia de casas degradadas, o vereador com o pelouro da Protecção Civil da autarquia covilhanense, revela-se preocupado com a situação habitacional dos residentes, bem como pela falta de segurança que estas casas apresentam. "É um problema complexo e extensivo e torna-se ainda de maior dificuldade de resolução porque envolve valores muito significativos de dinheiro", explica João Esgalhado O autarca lembra que a "protecção civil começa por todos nós, pelos proprietários e arrendatários das casas, que devem fazer a sua manutenção". "Porém, em termos legais, nenhuma das partes cumpre, normalmente, as suas obrigações", afirma.

Legislação condiciona intervenção
A degradação acentuada pode levar ao completo desabamento das casas e neste ponto, de acordo com o responsável pela Protecção Civil, a edilidade, em parceria com os bombeiros, tem tentado minorar esse risco, especialmente em relação aos incêndios, com a renovação das redes de água, prévia pavimentação de acessos e aplicação de bocas de incêndio em pontos estratégicos, que são regularmente vistoriados pelos Serviços Municipalizados. Para além disto, foram também colocadas mangueiras e aparelhagem auxiliar que permite, em zonas onde residam bombeiros, intervenção imediata, antes de chegar o corpo de voluntários. Para o segundo comandante da corporação covilhanense, Adolfo Gato, há que olhar para o nível de vida das pessoas que vivem nestas zonas. "São pessoas com poucos rendimentos, idosos e por isso é natural que as casas estejam nessa situação". E prossegue: "Os senhorios, derivado das baixas rendas que recebem, também não querem saber". Adolfo Gato defende "um esforço entre senhorios, arrendatários e Câmara" para que os problemas que afectam a zona histórica sejam resolvidos.
Mas existem outros problemas, tais como infiltrações, ruínas completas e animais que surgem na sequência do mau estado das casas. Neste aspecto, adianta João Esgalhado, a Câmara da Covilhã tem pressionado o Poder Central "no sentido de ser publicada legislação eficaz de modo a que os municípios possam tomar posse de bens de terceiros e proceder às obras". Até que isso aconteça, a edilidade tem procedido à intervenção e beneficiação de algumas casas, "mas o drama é tão vasto que é impossivel resolver todas as questões", considera Esgalhado.


CAIXA:
Mais de 15 milhões de euros para intervencionar Zona Histórica

O Gabinete Técnico-Local (GTL) é mais um dos mecanismos que a Câmara Municipal da Covilhã dispõe para tentar atenuar e resolver os problemas das casas degradadas. A iniciar funções em Setembro, o GTL dirige-se, numa primeira e última intervenção, para toda a Zona Histórica da cidade serrana, que contempla São Francisco, São Martinho, São Pedro, Santa Maria e Conceição, isto é, "toda a zona que envolve o casco urbano antigo da cidade", explica o vereador responsável pela Protecção Civil. João Esgalhado diz que "depois de um primeiro diagnóstico exaustivo da situação, virá a obra concreta". Porém, esta intervenção ultrapassa em muito as capacidades financeiras do município, já que o volume de verbas ascende a 15 milhões de euros (mais de três milhões de contos). O Gabinete, segundo Esgalhado, tem "prazos apertados de funcionamento". "Pretendemos que ao longo dos próximos seis anos todas estas áreas estejam devidamente estudadas e intervencionadas", esclarece o autarca. Até à data já foram feitas algumas intervenções como é o caso da renovação da rua próxima às Escadas do Sol, colocação de novas redes de electricidade, esgotos, água e gás.

 




Debuxadores desenvolvem um trabalho muito importante



Antigos criadores de moda



Um dos objectivos do Arquivo Histórico é criar uma base de dados que possa ser consultada por todos os que desejarem. Para que essa finalidade se concretize o Centro de Documentação conta com o trabalho de dois técnicos de debuxo.
Raúl Peixeiro e João Lázaro são debuxadores em fase de pré-reforma. Através de acordos ocupacionais do Instituto de Formação Profissional, estão a colaborar com o Centro no sentido de ser possível identificar muito material têxtil que está integrado no Arquivo. João Lázaro compara a interpretação das amostras de vários padrões a uma pauta de música que só o debuxador compreende, tal como o músico.
"Um debuxador é um criador de moda" define Raúl Peixeiro. Actualmente já não se formam debuxadores mas sim engenheiros têxteis.
Os técnicos de debuxo do Centro de Documentação estão a trabalhar num fundo muito importante que é constituído por cerca de 35 mil amostras têxteis que pertencem a uma colecção excepcional do ponto de vista estético. É a colecção de René Ferdinand Delimbeuf cuja família doou ao museu todo o espólio.
Esta colecção é composta por catálogos de amostras e livros de fabricação que vão desde 1936 a 1962. A função dos debuxadores é passar todos os dados técnicos para uma ficha que será posteriormente introduzida na base de dados informática. Os debuxadores identificaram mais de 20 mil amostras das quais oito mil já estão inseridas na base de dados. Com a conclusão deste trabalho toda a informação estará disponível na Internet. Os interessados, na sua grande maioria industriais e designers têxteis, terão que pagar uma quantia simbólica para aceder à base de dados.