As trabalhadoras voltaram ao trabalho na tarde de terça feira, 16
Criada comissão sindical para fiscalizar produção
Trabalhadores da Carveste recebem 150 euros do salário de Junho

A gerência da Carveste prometeu pagar 150 euros do salário atrasado de Junho. Mas ainda falta o restante bem como o de Julho. Os 550 trabalhadores não entendem esta situação, já que a empresa tem um calendário cheio de encomendas até Outubro.


Carla Loureiro
NC/Urbi et Orbi


"Os trabalhadores, porque acreditam na viabilidade e no futuro desta empresa, decidiram por larga maioria, aceitar a proposta da administração de lhes ser pago 150 euros (cerca de 30 contos), a cada um e em função das facturações que forem sendo feitas, a garantia do pagamento do resto do salário, incluindo o de Julho". Foi esta a decisão saída de um plenário que reuniu os cerca de 550 trabalhadores da empresa de confecções Carveste, em Caria, no concelho de Belmonte, administração e Sindicato Têxtil da Beira Baixa, na última terça-feira, 16. Ficou igualmente assente que uma comissão sindical, acompanhada por três quadros técnicos da sua confiança, vão fiscalizar as saídas do produto e as entradas do dinheiro, como forma de garantia de que os responsáveis da Carveste cumprem o prometido.
Reunidos, não só na terça, mas também na segunda-feira, 15, os operários estavam já sem receber os seus ordenados há dois meses. E o cenário, às 8 horas da manhã de terça-feira, era de preocupação. Mas o sentimento dominante era o de estupefacção, uma vez que não percebiam como é que "uma empresa que tem um calendário de encomendas cheio até Outubro se encontra numa situação destas", refere Conceição Mendes, trabalhadora há 29 anos na Carveste. E a única explicação que esta operária encontra é "a má gestão" de que foi alvo a empresa de confecções. Já de acordo com o dirigente sindical Luís Garra, "a empresa encontra-se numa situação financeira complicada, carece de um apoio por parte da banca e precisa de uma intervenção ao nível governamental no sentido de ultrapassar estas dificuldades financeiras", mas e continua, "tem uma carteira de clientes seguros e certos, um parque tecnológico bastante bom e um quadro de pessoal qualificado". Já em relação ao facto de os salários ainda não terem sido pagos, Garra diz que "sendo verdadeiras as afirmações da administração, o que levou a isto foi que houve um banco que se recusou a descontar as letras, pois a empresa facturou o suficiente para pagar aos trabalhadores".
Se antes do plenário, o sentimento manifestado por alguns dos trabalhadores com os quais o NC falou era de desconfiança e de algum desespero, depois desta decisão há quem já veja o prenúncio de que a empresa onde trabalharam uma vida inteira possa seguir o caminho de outras tantas, o encerramento. "Recusamos a possibilidade de que a gerência não assuma plenamente as suas responsabilidades na recuperação da empresa bem como o Governo assista sem tomar qualquer medida, como já o fez em relação a outras", responde Garra a esta possibilidade, relembrando que se tal se verificar "são 550 trabalhadores que não têm outras alternativas de emprego a não ser pedir esmola e caridade". E lança uma vez mais o aviso a autarcas, deputados e outros agentes económicos de que não podem "assistir impávidos e serenos ao desmoronar de uma empresa que é a bandeira da região e que ao fechar portas trará ainda mais implicações económicas e sociais profundas para o Distrito, em particular para os concelhos da Covilhã e Belmonte".
Os trabalhadores, ainda que tivessem voltado a laborar normalmente na tarde de terça-feira, não desarmam e prometem outras medidas de luta para manterem os seus postos de trabalho. No entanto, está previsto para a próxima quarta-feira, 25, um outro plenário na empresa.


 



Mais duas empresas em risco na Guarda



A nuvem de crise no sector têxtil e das confecções ultrapassou já as fronteiras do distrito de Castelo Branco. No distrito da Guarda, depois da Gartêxtil, empresa administrada pela Carveste, que colocou 190 trabalhadores no desemprego e da Bellino&Bellino, em Gouveia, onde também mais de 100 pessoas ficaram sem trabalho, as dificuldades parecem chegar à fábrica Confama, em Famalicão da Serra. De acordo com Carlos João, do Sindicato Têxtil da Beira Alta, "já começa a faltar trabalho e os trabalhadores têm ido trabalhar um dia e o outro não". Esta fábrica emprega cerca de uma centena de pessoas. Já em Gouveia, a Cabral & Irmãos também apresenta dificuldades, pondo em risco o emprego de perto de 50 pessoas. Questionado sobre a Gartêxtil, Carlos João acredita na sua viabiliadade e abertura, "mas nunca com a actual administração".