"Os trabalhadores, porque acreditam na viabilidade
e no futuro desta empresa, decidiram por larga maioria,
aceitar a proposta da administração de lhes
ser pago 150 euros (cerca de 30 contos), a cada um e em
função das facturações que
forem sendo feitas, a garantia do pagamento do resto do
salário, incluindo o de Julho". Foi esta a
decisão saída de um plenário que
reuniu os cerca de 550 trabalhadores da empresa de confecções
Carveste, em Caria, no concelho de Belmonte, administração
e Sindicato Têxtil da Beira Baixa, na última
terça-feira, 16. Ficou igualmente assente que uma
comissão sindical, acompanhada por três quadros
técnicos da sua confiança, vão fiscalizar
as saídas do produto e as entradas do dinheiro,
como forma de garantia de que os responsáveis da
Carveste cumprem o prometido.
Reunidos, não só na terça, mas também
na segunda-feira, 15, os operários estavam já
sem receber os seus ordenados há dois meses. E
o cenário, às 8 horas da manhã de
terça-feira, era de preocupação.
Mas o sentimento dominante era o de estupefacção,
uma vez que não percebiam como é que "uma
empresa que tem um calendário de encomendas cheio
até Outubro se encontra numa situação
destas", refere Conceição Mendes, trabalhadora
há 29 anos na Carveste. E a única explicação
que esta operária encontra é "a má
gestão" de que foi alvo a empresa de confecções.
Já de acordo com o dirigente sindical Luís
Garra, "a empresa encontra-se numa situação
financeira complicada, carece de um apoio por parte da
banca e precisa de uma intervenção ao nível
governamental no sentido de ultrapassar estas dificuldades
financeiras", mas e continua, "tem uma carteira
de clientes seguros e certos, um parque tecnológico
bastante bom e um quadro de pessoal qualificado".
Já em relação ao facto de os salários
ainda não terem sido pagos, Garra diz que "sendo
verdadeiras as afirmações da administração,
o que levou a isto foi que houve um banco que se recusou
a descontar as letras, pois a empresa facturou o suficiente
para pagar aos trabalhadores".
Se antes do plenário, o sentimento manifestado
por alguns dos trabalhadores com os quais o NC falou era
de desconfiança e de algum desespero, depois desta
decisão há quem já veja o prenúncio
de que a empresa onde trabalharam uma vida inteira possa
seguir o caminho de outras tantas, o encerramento. "Recusamos
a possibilidade de que a gerência não assuma
plenamente as suas responsabilidades na recuperação
da empresa bem como o Governo assista sem tomar qualquer
medida, como já o fez em relação
a outras", responde Garra a esta possibilidade, relembrando
que se tal se verificar "são 550 trabalhadores
que não têm outras alternativas de emprego
a não ser pedir esmola e caridade". E lança
uma vez mais o aviso a autarcas, deputados e outros agentes
económicos de que não podem "assistir
impávidos e serenos ao desmoronar de uma empresa
que é a bandeira da região e que ao fechar
portas trará ainda mais implicações
económicas e sociais profundas para o Distrito,
em particular para os concelhos da Covilhã e Belmonte".
Os trabalhadores, ainda que tivessem voltado a laborar
normalmente na tarde de terça-feira, não
desarmam e prometem outras medidas de luta para manterem
os seus postos de trabalho. No entanto, está previsto
para a próxima quarta-feira, 25, um outro plenário
na empresa.
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