A ARMA DOS JUÍZES

Clara Pinto Correia



Por Ana Maria Fonseca

"... A cruz verde apareceu ao fundo da Rua Comandante Aniceto do Rosário assim que Joaquim Peixoto virou a esquina. Como já lhe acontecia desde há uns tempos sempre que via um sinal de farmácia, estremeceu-lhe ligeiramente o coração no peito, e as mãos crisparam-se-lhe dentro dos bolsos. Reteve a respiração por uma fracção de segundo, à espera que lhe passasse o prenúncio de tontura que costumava visitá-lo com frequência quando aparecia no seu campo de visão uma cruz verde com uma serpente ao centro, recortada contra um círculo branco. ..."
É assim que começa a mais recente aventura de Clara Pinto Correia.
Lisboa e os seus longos subúrbios servem de cenário a uma história que toca o policial, mas onde o mote é o modo de vida embrenhado em tóxicos social e politicamente correctos, numa sátira à sociedade actual, aos seus desígnios e conceitos.
Bárbara Emília, Joaquim Peixoto e Sebastião Curto vivem em fuga à infelicidade e à depressão, sem sucesso. O "mais vale parecer do que ser" toma conta de personagens que vivem envolvidos na perversão interna de um País que rebenta pelas costuras de lobbies instalados, perante os quais a luta é inglória.
Os subúrbios de uma cidade que cresceu de forma desordenada, cheia de prédios que mais parecem caixotes a que se regressa após um dia de trabalho, para passar a noite a olhar para outro caixote, a televisão, numa sociedade em que as pessoas não conseguem ser felizes e nem sequer já têm o sonho da felicidade. Por isso escolhem os medicamentos como escape mais fácil de um tipo de vida que não sabem, ou não podem construir.
" A "Arma dos Juízes" é ao mesmo tempo um policial, onde corre uma investigação, onde se fala da corrupção e do tráfico de influências, escrito num tom vivo e coloquial.