José Geraldes


"Ei-los que chegam, novos e velhos"

Não se podem expulsar dezenas de milhares de imigrantes de forma expedita e injusta. São pessoas como nós com direitos e deveres

Portugal que, desde sempre foi país de emigrantes, transformou-se agora em país de imigrantes. Com destaque para os originários dos países de Leste : da Ucrânia, da Roménia, da Rússia e da Moldávia. Eles são já 400 mil. Uns legais, outros, a maioria clandestinos.
O paralelismo com o fenómeno da emigração portuguesa para a Europa, nos anos 60, é inevitável. Vagas de dezenas milhares de portugueses passavam "a salto" por semana as fronteiras da Espanha e da França. Paris tornou-se a terceira cidade portuguesa. Aldeias de Portugal esvaziaram-se e a população das vilas baixou para metade.
Nasceu a máfia dos "passadores" que cobravam um preço pela passagem para França sem garantia de trabalho.
Por volta dos anos 70, 800 mil portugueses trabalhavam em toda a França. Os "legais" eram uma minoria. A maioria vivia em barracas. No filme O Salto ficaram imortalizadas as barracas de Saint- Denis, nos arredores de Paris, com bons carros à porta e televisões por dentro. Alguns tinham a antiga quarta classe. Mas 90 por cento eram analfabetos e desprovidos de qualquer qualificação profissional. As actuais auto-estradas e o TGV foram construídos pelos portugueses em condições de trabalho desumanas.
Foi longa e difícil a batalha pela sua legalização. Anos e anos se passaram até serem legalizados. A França progredia com a força do trabalho dos portugueses mas recusava-lhes a célebre "carte de séjour". Viveram-se tragédias familiares sobretudo com o reagrupamento familiar não sem darem origem a depressões e outras doenças.
Veja-se o que aconteceu com os imigrantes do Leste. Com a queda do muro de Berlim em 1989 e consequente desintegração dos "países da cortina de ferro" e a passagem à reserva de militares do Exército Vermelho, a miséria instalou-se nesses países. Na década de 90, milhares e milhares de ucranianos, moldavos, russos e romenos "invadem" Portugal à procura de melhores condições de vida. As máfias organizam-se e controlam em estruturas de células as vindas destes imigrantes a quem obrigam a pagar quantias avultadas. E com uma vigilância ao milímetro.
Ao contrário dos portugueses de 60, estes imigrantes têm licenciaturas e doutoramentos em engenharia e electrónica, são médicos, professores universitários, enfermeiros, técnicos de turismo, estudantes do ensino superior. Sem saber o português, adaptam-se bem.
Do Minho ao Algarve, trabalham na construção civil, serviços de limpeza e nas auto-estradas, mas explorados de todas as formas. E estão a dar um contributo decisivo para o progresso de Portugal, fazendo trabalhos que os portugueses recusam tal como os franceses nos anos 60.
Perante a sua presença no País, que fez o Governo? Os socialistas promulgaram uma lei de legalização de todos os imigrantes. Mas a sua integração ficava dependente do contrato de trabalho. Muitos mesmo assim ficaram de fora.
O Governo actual elaborou uma nova lei que prevê serem os imigrantes circunscritos às áreas geográficas onde arranjarem trabalho. Quanto à regularização dos "ilegais" a viver no País, a resposta reside no repatriamento voluntário. E sobre o reagrupamento familiar, o acesso ao trabalho tem de estender-se ao cônjugue.
Não se podem expulsar dezenas de milhares de imigrantes de forma expedita e injusta. São pessoas como nós com direitos e deveres. A França acabou por regularizar todos os nossos emigrantes que hoje são elogiados pelo Governo.
Portugal tem de seguir o mesmo caminho. Como a emigração, a imigração continuará sempre. É uma atitude de saúde da democracia. João Paulo II diz :"O sinal mais eficaz par medir a verdadeira estatura democrática de uma nação moderna consiste na avaliação do seu comportamento para com os imigrantes".