|
Os meios não justificam os
fins
Segundo o Relatório Anual da Amnistia Internacional
(AI) sobre os abusos dos Direitos Humanos (apresentado
na primeira semana de Junho), aumentaram relativamente
ao ano passado o número de execuções
judiciais de condenações à pena de
morte, atingindo em 2001, as 3 mil execuções
(segundo valor mais alto obtido em 20 anos), alertando
para a possibilidade dos números reais serem ainda
mais elevados. Países como o Irão, a Arábia
Saudita, a China e os Estados Unidos (este último
continua a condenar à morte menores: nos últimos
10 anos, 15 jovens foram executados) são os países
com mais condenações à pena capital.
Tem havido, no entanto, alguns progressos em relação
à abolição da pena de morte: 11 países
retiraram do seu código penal a pena capital, nomeadamente,
o Chile, a Turquia (estes últimos países
apenas em tempos de paz), a Bósnia e a Sérvia,
mesmo que, na maioria das vezes, isso não se traduza
em práticas sociais nem na melhoria da situação
real dos cidadãos desses países.
Mas para além da apresentação dos
números, a AI alerta ainda que o 11 de Setembro,
constituindo um crime contra a humanidade, também
serviu de pretexto para alguns governos que se juntaram
"à luta contra o terrorismo" para aumentar
a repressão, e enfraquecer a protecção
dos direitos humanos (como aconteceu, por exemplo, no
Canadá, Colômbia e EUA).
Como afirma Irene Khan, secretária-geral da AI,
"a universalidade dos direitos humanos enfrenta o
maior desafio de sempre. Padrões duplos e selectividade
estão a tornar-se a regra". Mais ainda quando
a repressão e controlo, neste mundo global, empregam
e utilizam os meios e sistemas mais actuais, como é
o caso do Echelon, um instrumento Big Brother, um olho
global que parece pretender ver tudo, operado e controlado
pelos EUA, em cooperação com o Reino Unido
e a Austrália, sobretudo para fazer espionagem
industrial de forma a alcançar a supremacia económica.
Verificou-se alguma contestação no Parlamento
Europeu por parte dos países ocidentais...nucleares,
alegando nada saber sobre este organismo- rede de espionagem
a nível global. Podemos analisar este facto de
vários prismas, mas será curioso reflectir,
na minha opinião, sobre 2 aspectos: a) a situação
geoestratégica dos três países assinalados,
a parecer sugerir uma cobertura espacial adequada e eficiente;
b) a posição no sistema-mundo e, decorrendo
daí, as condições de privilégio
de alguns países em detrimento de outros, dispondo-se
em grupos concêntricos, do centro para a periferia.
A globalização de cima para baixo!
Podemos afirmar que com as novas tecnologias de informação
o tempo e o espaço colapasaram, e como afirmou
Virili, estabeleceu-se uma rede que desterritorializou
as nossas vidas (ciberespaço), já que a
palavra de ordem é: "escutar, saber onde está,
procurar". Será necessário, assim,
estabelecer uma reflexão, nacional e transnacional,
muito profunda, sobre estes novos (?) fenómenos
sociais e, sobretudo, questionar-se que tipo de sociedade
queremos. Este sim, deve ser um recto a atingir...mesmo
pelas ciências sociais.
|