A UBI acolheu, na passada terça feira, 9, um debate
sobre o futuro da Rádio Televisão Portuguesa
(RTP) que contou com a presença de Pedro Mariano,
responsável pelo Centro de Emissão Regional
de Castelo Branco, José Manuel Barata Feyo, jornalista
da RTP e João Coreia, docente da UBI, numa discussão
moderada por António Fidalgo e promovida pelo grupo
de reflexão informal sobre o serviço público
de televisão.
A importância de um serviço público
de televisão em Portugal, que neste momento a RTP
"presta o menor possível com dois canais,
num país europeu", defende Barata Feyo, ficou
bem vincada durante a sessão. Uma necessidade num
tempo em que, demonstra o jornalista, "em média,
na Europa, as crianças vêem entre 1200 a
1400 horas de televisão contra as cerca de 900
horas que passam na escola".
"Falar sobre serviço público é
falar também sobre cidadania. Questões que
dizem respeito a todos não devem ser decididas
apenas por quem tem maioria parlamentar, mas deve haver
um debate amplo", defende Pedro Mariano. Por isso
têm sido realizados debates por todo o País,
no sentido de dar a conhecer aos portugueses "o que
está em jogo quando se fala em serviço público
de televisão".
Barata Feyo aponta vários aspectos necessários
à prestação de um serviço
público de qualidade por parte da RTP, bem como
para a sua sobrevivência, como é o caso da
independência que, segundo o jornalista nunca existiu.
"A RTP sempre teve vocação para ser
a voz do dono, e nunca faltou quem quisesse ser dono da
RTP", defende. Começou com a ditadura, em
que era a voz do salazarismo e do partido único,
e depois continuou com os partidos políticos a
seguir ao 25 de Abril que "nunca deixaram que a RTP
tivesse a sua própria voz, porque sempre quiseram
que ela fosse a voz do partido no poder", explica.
RTP presta "o menor serviço
público possível"
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"Governo atacou o problema da pior maneira
possível"
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Outro dos grandes problemas prende-se com o financiamento,
uma vez que a taxa de televisão abolida pelo governo
de Cavaco Silva era uma fonte de financiamento importante,
bem como a venda dos retransmissores, que se revelou um
mau negócio para a televisão pública.
Vendidos na altura por cinco milhões de contos
(25 milhões de euros) são agora alugados
anualmente por 2 milhões de contos (dez milhões
de euros).
A RTP dependia da taxa de televisão e da publicidade,
da qual detinha o monopólio, antes do aparecimento
dos canais privados. Mesmo nessa altura "era tão
mal gerida que dava prejuízo", refere o jornalista.
Também as receitas oriundas da publicidade sofreram
um duro golpe. O Canal 2 passou a ter apenas publicidade
institucional e reduziu-se, no Canal 1 de 12 para sete
minutos, "retirando receitas na ordem dos 10 milhões
de contos", comenta o jornalista, acrescentando que
o novo governo não resolveu o problema. "Fez
uma descoberta do arco da velha "acaba-se com um
canal e resolve-se o problema". Governo atacou o
problema da pior maneira possível", defende.
"Portugueses têm o serviço público
de televisão que merecem"
Na opinião de Barata Feyo, a RTP "presta
o menor serviço público que é possível
prestar com dois canais, num país europeu".
Se houve alturas em que a RTP esteve "quase a corresponder
a esse anseio de serviço público de qualidade,
ultimamente tem vindo a degradar-se e a seguir o caminho
das televisões comerciais". O jornalista acredita
que, um caminho que devia ser de referência, está
muito aquém daquilo que devia ser e fazer. No entanto,
alerta o jornalista, não se pode pensar a RTP em
abstracto porque "ela é quem nela sempre mandou,
os sucessivos governos portugueses. É a eles que
temos de ir pedir contas, como portugueses que somos e
como pessoas que têm direito a um serviço
público de televisão de qualidade",
salienta e acrescenta, "os portugueses têm
o serviço público de televisão que
merecem", porque não pedem contas sobre o
que tem sido feito na RTP. Para Barata Feyo, a opinião
pública tem de perceber que há outras formas
de fazer serviço público de televisão
e lutar por elas.
"Como sociedade civil, podemos receber do estado
uma propriedade e a responsabilidade de a gerir. Através
das instituições cívicas e de cidadania,
podemos tomar nas nossas mãos a RTP. Temos muito
poder, às vezes temos é medo de o utilizar",
afirma, e salienta, "se várias pessoas, antes
da questão do possível fecho do segundo
canal tivesse protestado, dentro e fora da televisão,
sobre o serviço que a RTP estava a prestar, teríamos
hoje uma maior autoridade moral".
Independência da RTP é
essencial
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É necessária a manutenção
dos dois canais de televisão
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A independência da RTP é apontada como uma
das condições indispensáveis para
resolver o problema da estação. É
necessária independência governamental, tanto
quanto financeira.
Além da taxa de televisão, é necessário
que o Estado pague o que deve ao canal, "no total
são 120 milhões no mínimo. Todo o
défice da RTP vem dai", refre.
O jornalista defende a necessidade de dar à RTP
"uma legitimidade nacional e dinheiro para levar
em frente com responsabilidade e boa gestão, aquilo
que são os programas próprios de qualquer
televisão de serviço público na Europa".
"Atravessar o problema dos media televisivos em Portugal
é manter o serviço público, com os
dois canais. Para isso é preciso um público
exigente e uma política forte que não temos
em Portugal", defende João Correia.
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