Problemas discutidos no anonimato
Associação apoia famílias vítimas da droga e álcool


Chama-se Associação Portuguesa de Famílias Anónimas e funciona na Covilhã desde 1993. O seu objectivo é apoiar quem tem familiares ou amigos que enveredaram pelo caminho da droga ou álcool.

Rui Pires
NC/Urbi et Orbi


A Covilhã tem em actividade, desde 1993, a Associação Portuguesa de Famílias Anónimas, numa sala cedida pelos Padres Jesuítas na igreja de São Tiago. Esta associação foi fundada nos Estados Unidos pelo conhecido actor Paul Newman em 1961, quando se viu impotente para resolver os problemas de droga e álcool que afectaram o seu filho. Em Portugal existe desde 1987. Esta "casa" é destinada exclusivamente a familiares e amigos de pessoas vitimas da droga e do álcool. O objectivo passa por ensinar os pais a lidarem com os problemas da dependência dos seus filhos. A APFM não tem fins lucrativos e tem como base a interajuda e o esclarecimento de dúvidas que surgem quando o seio familiar é abalado com os mais variados problemas originados pelo consumo de drogas.
A actividade da APFA, na Covilhã, desenvolve-se todas as quartas feiras, pelas 21 horas. Este grupo reúne- se para partilhar os seus problemas. "A dor dos outros não tira a nossa, mas atenua", são as palavras de Maria Gabriela, uma das "responsáveis" pelo grupo da Covilhã.
O anonimato é um dos princípios básicos do programa das Famílias Anónimas. Um dos motivos pelo qual não se dá a cara tem a ver com os preconceitos existentes na comunidade para com os dependentes químicos. "Agora já não é tanto, mas no início as pessoas viam-nos passar ali todas as quartas feiras e comentavam"- "olha lá vão as da droga! - aqueles ali andam nas reuniões da droga". Comentários estes que já não afectam duas mães com as quais o NC falou, a Trindade e a Maria Gabriela. Elas já não dispensam a reunião semanal das Famílias Anónimas e afirmam que estas são o melhor tratamento para pais que tenham filhos com problemas de drogas. A estas reuniões chegam muitas vezes pais desesperados a procurarem a cura para os seus filhos. No entanto, este não é o local para encontrar a cura, mas para falar dos problemas em comum. "Por vezes estas reuniões são muito dolorosas" diz Maria Gabriela. E acrescenta que "nós, por vezes, temos que ser duros com as palavras, fazer ver aos pais a verdade. Nós ensinamos os pais a dizer não, a não ceder às ameaças, pois se cedem uma vez eles obrigam-nos a ceder novamente. Se for necessário chama-se a policia, até porque ao darmos o dinheiro que eles querem, estamos a contribuir para a morte dos nossos filhos".