José Geraldes
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Construção civil
e sinistralidade
Os acidentes mortais nas obras de construção
civil e obras públicas estão a aumentar
em Portugal. Raras são as semanas em que a Comunicação
Social não dê notícias de mortes em
obras. A questão está a transformar-se num
autêntico flagelo.
A média dos acidentes mortais e não mortais
anda pelo 60 mil casos. Lembre-se o número de mortos
na construção da auto-estrada Santarém-
Caldas da Rainha, a A15.
Os sinistros dão-se em todo o País com maior
incidência nas zonas onde se verifica número
acrescido de empreendimentos.
Agora foi a nossa região atingida com o acidente
mortal de um jovem de 22 anos no Canhoso.
A sinistralidade no trabalho é preocupação
antiga. Com o evoluir dos tempos, foram criados organismos
internacionais como a OIT (Organização Internacional
do Trabalho) que publica directivas em ordem a uma maior
segurança nas obras. A década de 90 intensifica
as normas já a nível da União Europeia
onde se verificam mais de 8 mil acidentes de trabalho
mortais por ano.
A Directiva-Quadro de 1989 fundamenta os grandes princípios
de política de segurança e higiene no trabalho
que diz respeito aos Estados, aos empregadores e aos trabalhadores.
Compete aos Estados adoptar as medidas legislativas adequadas
para o cumprimento dos princípios enunciados.
Aos empregadores incumbe a tarefa de prever e assegurar
a prevenção de todos os riscos.
Os trabalhadores são obrigados à utilização
correcta dos meios de prevenção e a comunicar
situações eventualmente perigosas.
Claro que não bastam só leis e normas para
se evitarem os casos de sinistralidade. Quer empregadores
quer trabalhadores devem estar conscientes dos perigos
de toda a ordem que podem advir no trabalho.
A formação é pedra de toque na prevenção
dos acidentes. Por isso, o Livro Branco dos Serviços
de Prevenção das Empresas elaborado há
três anos dedica várias páginas a
este tema.
Pormenores são mesmo referidos dada a sua importância.
Assim noções básicas do saber e do
fazer, como identificação dos riscos e da
aplicação das técnicas, fazem parte
da formação. E não só para
os empregadores como também para os trabalhadores.
A questão é saber se as empresas e os empregadores
investem o suficiente nesta área. A avaliar pelo
número elevado de acidentes mortais e pela fiscalização
do IDICT (Instituto de Desenvolvimento e Inspecção
das Condições de Trabalho ) conclui-se que
não.
Às vezes pode acontecer que haja culpa de descuidos
do trabalhador.
Mas, face ao desleixo de muitos empregadores, que atitude
tomar ? Se já existem coimas para os infractores
e o estado de coisas não muda, é porque
os empresários da construção civil
só pensam no lucro. Querem o trabalho feito mesmo
à custa de perda de vidas. E pergunta-se : podem
dormir descansados assim?
Neste caso, o Estado e as suas organizações
de vigilância têm que redobrar de esforços.
E alertar as empresas para o não cumprimento das
leis de segurança. E tornar ainda mais pesadas
as coimas.
Com a vida não se brinca. A vida de um cidadão
impõe-se como um valor absoluto. Cardjin, fundador
da JOC(Juventude Operária Católica), disse
um dia que um trabalhador vale mais que todo o ouro deste
mundo.
É tarefa do Estado e de todos nós salvaguardar
a vida do mais humilde trabalhador.
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