É
no Brasil rural do século XIX que decorrem as empolgantes
peripécias da vida de Maria Moura, uma espécie
de "José do Telhado" no feminino. Tinha
ela apenas 17 anos de idade quando conheceu uma série
de acontecimentos altamente dramáticos: encontrou
a mãe morta, foi violada pelo padrasto e viu as suas
terras cobiçadas por primos sem escrúpulos.
Uma mulher vulgar sucumbiria a tantas adversidades, mas
Maria Moura possuía outra têmpera: "Minha
primeira acção tinha de ser a resistência
[...] Vou procurar as terras da Serra dos Padres - e lá
pode ser para mim outro começo de vida. Mas garantida
com os meus cabras. Pra ninguém mais querer botar
o pé no meu pescoço". Servidas por uma
linguagem nua e crua, mas simultaneamente entusiástica
e densa, entrelaçam-se nesta obra todas as forças
e fraquezas, todas as virtudes e defeitos da condição
humana, desde o amor ao ódio, desde o crime ao remorso.
Ao decidir escrever este livro de aventuras - imenso painel
sem retoque de relações sociais, culturais,
morais e afectivas entre personagens sábia e comovidamente
delineadas, Rachel de Queiroz adoptou um estilo narrativo
em que muitas sequências se encontram montadas à
maneira de uma telenovela que, aliás, veio a ser
extraída desta obra. Distinguida com os Prémios
da Fundação Graça Aranha, Sociedade
Filipe de Oliveira e Súci, a autora recebeu ainda
o Prémio de Teatro do Instituto Nacional do Livro
e Roberto Gomes. "Memorial de Maria Moura" é,
segundo a própria autora, o seu último romance,
escrito aos 82 anos, e recebeu o prémio Jabuti 93
da Câmara Brasileira do Livro.
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