José Geraldes


Portagens, têxteis e Lamborghinis

Uma auto-estrada potencia picos de desenvolvimento em vários sectores. É uma janela de oportunidade para o futuro. Por isso, não estamos dispostos a pagar o novo imposto das portagens

Valente de Oliveira, ministro das Obras Públicas, apaziguou a contestação contra o pagamento das portagens na futura Auto-Estrada da Beira Interior propondo a solução do sistema da Via Verde para as populações locais.
Será esta solução viável e compensadora para o Estado? Para já e importa sublinhá-lo, Cavaco Silva, ao decidir o IP2 e o IP6, em perfil de auto-estrada, nunca teve intenção de colocar portagens em qualquer dos troços. Ora a instalação de portagens no traçado comporta preços elevadíssimos. E a rede secundária das estradas do Interior é tão má que não comporta fluxos intensos de trânsito.
A criação das SCUT"s, aliás, modelo importado da Irlanda e da Inglaterra, tem a vantagem de construir em tempo aprazado e, sem obras a mais, maior número de quilómetros de auto-estrada. E sem impacto imediato nas finanças públicas. Compreende-se que o governante se preocupe com os encargos do Estado, mas não podem ser as gentes do Interior a "pagar sempre as favas". Bem nos basta já a interioridade. E os sacrifícios têm de repartidos por todos.
Se pagamos impostos como os do Litoral ou das regiões metropolitanas, não há razões convincentes para discriminações negativas. Como é o caso. E uma auto-estrada potencia picos de desenvolvimento em vários sectores. É uma janela de oportunidade para o futuro. Por isso, não estamos dispostos a pagar o novo imposto das portagens.
Têxteis. A crise dos têxteis é cíclica. Lendo o Notícias da Covilhã dos anos 20, o tema da crise figura quase sempre na primeira página. Nos anos 70 devido ao choque do petróleo, a crise atinge o auge. O parque de máquinas envelhece e os industriais não se modernizam. Leis proteccionistas adiam as soluções que se impõem.
Apesar de tudo, a indústria dos lanifícios subsiste. As unidades que investem em novos parques de máquinas, dão um salto em frente. Uma nova mentalidade em gestão propicia a abertura de novos postos de venda e a penetração aguerrida nos mercados tradicionais. A inovação compensa. Mas um rol de empresas fica pelo caminho. E fecham.
A subsídio-dependência ergue-se como uma igreja salvadora. Surge o grito do aqui del-Rei ao Estado que tudo pode. É a coroação da preguiça e da falta de ousadia. E vem o Plano Mateus e ainda outros. Mas não se consegue a salvação desejada.
Ainda antes da queda do muro de Berlim, as confecções nascem como cogumelos. É novo Eldorado. Até que se descobre a mão-de-obra barata dos países de Leste. Depois vem a noite das falências e do desemprego. É uma depressão que invade a Cova da Beira. E ainda querem que paguemos portagens ? Venha um novo Vale do Ave.
Lamborghinis. Perante este cenário, em Portugal, os automóveis de marca Lamborghinis que custam cada um 267.578 euros ou seja 54 mil contos e podem alcançar a velocidade de 330km/hora, esgotam numa semana. Também é divulgado que no País temos 10 mil milionários possuindo cada um em activos um milhão de euros, isto é, 200 mil contos. E pergunta-se : será este o "país de tanga" de que fala o nosso Primeiro- Ministro?
Afinal, o sol quando nasce é para todos.