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Futebol, Tugas e as condicionalismos
sócio- históricos
Quando a maioria da população esteve (mais)
preocupada com a exibição dos Tugas no Mundial,
será certamente esta a melhor altura para fazer
referencia à obra de João Nuno Coelho, "Portugal
- A Equipa de Todos Nós. Nacionalismo, Futebol
e Media". Nas mais de duzentas páginas, o
autor aborda o fenómeno da construção
da identidade nacional, através dos mecanismos
difusos ou banais que quotidianamente reproduzem uma ideia
de nação. Pela análise do modo como
os jornais desportivos, especificamente quando se referem
à selecção nacional, se transformam
em agentes efectivos de uma mediação simbólica
que solidifica no senso comum uma específica concepção
de Portugal. Coelho circunscreve a discussão sobre
a nação a um problema de luta pelas representações
colectivas. Contudo, terá certamente que se analisar
um determinado estilo de jogo não só nos
seus processos internos (como a cultura táctica)
mas também nas relações do futebol
com a evolução da realidade social de um
país. As identidades são construções
relativamente estáveis num processo contínuo
de actividades sociais baseando-se, em grande parte, em
padrões arquétipos de comportamento. Estas
surgem da necessidade de controlo dos indivíduos
e/ou grupos do meio em que se insere(m) e durante períodos
de conflitos , divergências e lutas.
É consensual a ideia que no jogo contra os EUA
os Tugas tiveram uma má exibição
(jogando muito bem contra a selecção polaca
e contra a Coreia...onde perdemos, injustamente!). Muitos
afirmaram que se deveu "à falta de atitude",
convencidos que os outros, neste caso os americanos, eram
uma equipa fácil de vencer. A verdade é
que ao Tuga as coisas raramente correm como previsto,
sobretudo porque nunca tem nada previsto, mas apesar disso
não se atrapalha e arranja uma maneira de contornar
a situação. Muitas vezes as soluções
encontradas não são as melhores, mas certamente
serão as mais originais. Segundo o artigo de Frederico
Kuhl de Oliveira "Arte e Manha de Ser Português",
os portugueses são, de uma maneira geral, um povo
desenrascado. Já no século XVI, no livro
A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto,
o "pobre de mim", que foi um dos maiores Tugas
da nossa história, semeava a confusão por
terras asiáticas e escapava sempre à última
da hora com um esquema imaginado à pressão.
Porque seremos assim? Devido à tradição
portuguesa; ao facto de que em Portugal, nunca termos
tido um Estado-Providência forte (que surgiu como
uma estratégia de desenvolvimento que nasceu não
como resultado de uma acumulação de capital,
mas sim como resultado de um processo político,
não havendo uma interiorização dos
direitos sociais por parte da sociedade civil), mas uma
Sociedade- Providência forte (redes de relação
através dos quais os grupos sociais trocam bens
e serviços numa base não mercantil); para
executar as políticas sociais, o Estado criou várias
estruturas administrativas. Contudo, a proliferação
burocrática do mesmo teve como resultado uma difícil
coordenação central da actividade administrativa
do Estado, daí que muitos autores denominem este
aspecto de "contingência burocrática"
(Handler, 1978), baseado na ideia de que o crescimento
da burocracia está associado à ineficácia
dos serviços públicos; herança do
catolicismo que ajudou a fomentar um espírito despreocupado
em relação à vida quando comparado
com o calvinismo dos países anglo-saxónicos
(tradição weberiana), onde se fazia uma
verdadeira apologia ao trabalho; e o atraso com que a
modernidade chegou a Portugal, serão alguns dos
factores que poderão explicar a nossa identidade,
que mesmo que seja abstracta ela é real.
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