Antonieta Garcia falou à
comitiva americana sobre a presença dos judeus
na Beira
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Antonieta Garcia
descreve o percurso judaico na Beira
Judeus americanos à
procura dos antepassados
Uma comitiva de judeus
americanos esteve na UBI na passada terça feira,
11, para ouvir a docente e investigadora, Antonieta Garcia
falar sobre a presença judaica na Beira Interior.
Um tema vasto que agradou à comitiva americana,
de passagem por Portugal à procura das raízes
judaicas que, na maioria dos casos, são portuguesas.
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Por Ana Maria
Fonseca
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"Muitos dos americanos
que estão nesta comitiva são descendentes
de judeus portugueses", explica Rufina Silva Mausenbaum,
uma das organizadoras da viagem que já passou por
Espanha e por várias cidades portuguesas até
chegar à Covilhã. "Estão todos
interessados e com vontade de celebrar a nossa ascendência
e história judaica", explica a organizadora
que tem um site na Internet chamado saudades, onde fala
sobre os judeus portugueses.
Dos cerca de 25 elementos que compõem a comitiva,
a grande maioria pertence a associações judaico-americanas
e muitos andam à procura dos seus antepassados portugueses.
É o caso de Maria Smith que emigrou para os Estados
Unidos com 16 anos. O desejo de reconstruir a árvore
genealógica da família, trabalho iniciado
pelo pai, nascido no Fundão, conduziu-a a uma busca
por terras lusas que continua com esta visita. "Já
fiz várias pesquisas na Torre do Tombo, mas é
muito complicado porque os nomes eram mudados várias
vezes", explica a luso-americana.
Tal como Maria Smith, muitos dos membros da comitiva andam
à procura das suas origens.
Artur Benvista, um dos membros do grupo, já tinha
assistido a uma palestra proferida por Maria Antonieta Garcia,
em Belmonte, em 1994. O Presidente da Associação
Americana de Estudos Cripto-Judaicos diz que os estudos
que esta investigadora leva a cabo são "muito
interessantes. O seu trabalho é muito valioso e ela
é excelente", salienta . Muito interessado nesta
conferência, Artur Benvista sublinhou que era um dos
seus maiores anseios nesta viagem, apesar de lhe interessarem
também "os locais com sinais judaicos, as antigas
ruas e sinagogas, porque os meus antepassados eram espanhóis
e portugueses", conta.
Médicos da Beira na medicina universal
Antonieta Garcia agradou aos cerca de 25 americanos que
ouviram atentamente a investigadora falar, de uma forma
geral, daquilo que foi a presença dos judeus na
região desde a Idade Média. Traduzida por
Angela Prestes, docente da UBI, a investigadora focou
algumas personalidades célebres que aqui permaneceram
durante a Idade Média e Inquisição.
O renascer do judaísmo no início do século,
e nos anos 90, foi ainda abordado pela docente da UBI
"porque agora há uma comunidade única
no País, a de Belmonte, e foi nos anos 90 que se
tornou possível retornar ao judaísmo ortodoxo
e ter uma sinagoga e um cemitério judeus criados
de raiz e com chefes religiosos", explicou.
Da presença de judeus na Beira destaca-se o surto
de desenvolvimento no século XVII com o Marquês
de Pombal que "encontrou aqui muito, por parte dos
judeus", explica e continua, "a medicina foi
um campo onde, não só em Portugal, mas em
todo o mundo, se tornaram célebres. Há vários
médicos da região, Amato Lusitano, em Castelo
Branco, António Ribeiro Sanches, em Penamacor,
nomes grandes da medicina que fazem parte da história
da medicina universal", salienta.
Embora não haja dados relativos ao número
de Judeus que povoou a Beira ao longo dos séculos,
a investigadora adianta que houve duas contagens de população
em Portugal, uma em 1492, antes da data da expulsão
dos reis de Espanha, quando muitos judeus vieram para
Portugal, e outra em 1527. "A população
na Beira, entre o final do século XV e início
de XVI, aumentou 60 por cento. A Covilhã aumentou
concretamente 71 por cento em população.
Obviamente que se trata de judeus que, fugidos de Espanha,
se instalam em Portugal e aqui na região da fronteira",
afirma a investigadora.
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Centro
de Estudos Judaicos apoia investigação
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O Centro de Estudos Judaicos, aberto desde Maio
nas instalações da Biblioteca Central,
representa um papel importante no estudo da história
do judaísmo nas beiras. "Neste momento
temos ainda um material bastante reduzido, mas
já há alguma documentação,
da Torre do Tombo, que serve às pessoas
exactamente para investigar a presença
de judeus na Beira", explica Antonieta Garcia.
Segundo a investigadora, há já algumas
pessoas interessadas e a fazer investigação,
recorrendo ao Centro e, também um mestrado
a decorrer na área dos estudos judaicos.
Dos projectos do Centro destaca-se estudo sistemático
e exaustivo da presença judaica na Beira
durante o século XV, um projecto candidatado
à Fundação para a Ciência
e Tecnologia. Também a presença
da inquisição com alvo preferencial
nos judeus, mas também noutras ortodoxias,
será alvo de estudo intensivo em breve.
Além disso está a ser feita uma
página de Internet dedicada ao médico
judeu de Penamacor, Ribeiro Sanches.
"Temos alguns livros e documentos, mas sobretudo,
o levantamento bibliográfico do que existe
nas bibliotecas de Coimbra, de Lisboa, os arquivos
da inquisição. Portanto indicamos
onde estão os documentos e depois as pessoas
procuram. Quem se dirigir aqui terá todo
o apoio necessário à sua investigação",
garante a investigadora.
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