José Geraldes
|
A(s) pátria(s) que nos falta(m)
Para que estas pátrias surjam,
o melhor caminho está na Escola Básica,
no Secundário e na Universidade
A leitura, quer de livros quer de jornais,
não é para os portugueses um ponto de honra.
A este respeito, os últimos dados do Eurostat,
organismo da União Europeia que procede regularmente
ao estudo dos hábitos da vida quotidiana, dão
uma imagem pouco agradável de Portugal.
No capítulo dos livros, os níveis de leitura
em comparação com a média comunitária,
situam-se em percentagens que fazem pensar. Assim, nos
últimos doze meses, 68 por cento dos portugueses,
ou seja dois terços da população,
não leram um único livro. E não só
não leram como também não compraram.
Apenas 32 por cento haviam lido um livro contra 45 por
cento dos gregos e 47 por cento dos espanhóis.
Os suecos vão largamente à frente com uma
taxa de leitura de 80 por cento.
Quanto aos jornais, o panorama permanece sombrio. E eis
que 30 por cento dos portugueses declaram não ler
um diário. A média comunitária é
de 40 por cento. Os restantes 70 por cento procuram as
notícias na televisão. Também aqui
os suecos levam a palma: 72 por cento lê habitualmente
um diário. Em Portugal, em cada mil habitantes,
segundo dados recentes, 72 lêem um diário.
O afastamento do hábito de ler livros e jornais
traduz um grau de analfabetismo que ainda grassa na população
portuguesa. Mesmo com o incremento da rede de bibliotecas
públicas e as promoções que as empresas
jornalísticas levam a cabo junto dos seus leitores,
a situação parece não melhorar. Diz-se
que o facto de se publicarem três diários
desportivos no nosso País- caso único na
Europa- terá aumentado a leitura dos Jornais. E
não há bar ou café que não
disponha de um ou dois destes jornais para uso dos seus
clientes. E é verdade que a imprensa regional contempla
uma fatia da população que não lê
os diários de referência ou populares. Um
estudo da MarKteste assinala que dos leitores da imprensa
regional, só 11 por cento lê um diário.
O mesmo estudo refere que a circulação dos
cinco principais diários portugueses é inferior
às vendas da revista Maria.
Estamos longe dos tempos em que, como diz Umberto Eco,
"a leitura dos jornais diários era a oração
da manhã do homem moderno".
Com a realização anual das Feiras do Livro
em Lisboa e Porto, ficamos com a sensação
de que as vendas dos livros aumentam. Mas será
que a leitura dos livros cresce? Não parece. Estas
iniciativas por esse facto não devem ser subestimadas.
Pelo contrário. A sua valorização
impõe-se cada vez mais.
A chegada das novas tecnologias não rouba o lugar
dos livros. Nem a Internet com todas as vantagens. Já
temos na rede os e-book ou livros electrónicos.
E, citando de novo Umberto Eco,"não há
como tocar num livro para o sentir". Isto sem pôr
em causa os hipertextos da Internet.
Marguerite Yourcenar escreve: "O verdadeiro lugar
do nascimento é aquele em que se lançou
pela primeira vez um olhar inteligente sobre si próprio:
as minhas primeiras pátrias foram livros".
Para que estas pátrias, surjam, o melhor caminho
está na Escola Básica, no Secundário
e na Universidade. Os alunos devem pesquisar nos livros
e não apenas em sítios da Internet por comodismo.
E ler jornais. Sem os jornais, temos apenas notícias
fragmentadas da televisão, uma informação
incompleta.
Será este projecto possível num País
onde a maioria dos alunos abandona o ensino no nono ano?
Ainda damos o benefício da dúvida. Com reservas.
|