Quinta conferência sobre religião e sociedade
"A religião está em crise"

Em mais uma conferência integrada no projecto "Religião e Sociedade na Pós-Modernidade", Moisés Espírito Santo fez uma apreciação global sobre a evolução do conceito religioso no nosso país, apontando a falta de tolerância religiosa.

Por Rui Castro


"Contradições da Mudança Religiosa em Portugal: Modernidade Individual e Conservadorismo Institucional" foi o tema que Moisés Espírito Santo abordou no passado dia 28 de Maio, em mais uma conferência com o objectivo de analisar o papel da religião em diferentes sociedades no contexto da Pós-Modernidade.
Após uma breve definição do termo religião e da exposição da sua função social, que passa por "dar sentido à vida, propor normas colectivas e construir comunidades", o conferencista constatou que "as religiões estão em crise, estão a sofrer um processo de abandono". Dando como exemplo "o abandono massivo do Islão, do Judaísmo e do Protestantismo", Moisés Espírito Santo salienta pormenorizadamente, a quebra de adesão que a Religião Católica sofreu em Portugal, num período de 30 anos: "Em 1970 havia cerca de 60 por cento de praticantes e em 2000 a percentagem desce para os 15 por cento". Da mesma forma, os sete sacramentos que lhe são inerentes sofrem um progressivo desuso, ou seja, "só o baptismo e o casamento continuam a ser praticados com frequência". Ao mesmo tempo, "tem incrementado o número de rituais, seguidos por milhares de pessoas e que não coincidem com o principal objectivo da religião, que é a salvação". É o caso do culto à Virgem Maria que se "está a sobrepor gradualmente ao culto a Deus", exemplifica o orador. Assim, as religiões tradicionais, no seu ponto de vista, estão a sentir dificuldades e cada vez mais a "dar lugar a outras práticas com uma certa espiritualidade individual", uma espécie de "cada um faz por si".

O conservadorismo institucional

De facto, "os valores estão a mudar de forma a que cada indivíduo crie a sua própria ligação com o transcendente", admite Moisés Espírito Santo que, além de ver este individualismo emergente como um propulsor das mudanças que estão a acontecer na religião, também lhe confere um carácter positivo. Isto porque a espiritualidade que o acompanha "pode ser mais enriquecedora que as religiões tradicionais e favorecem a auto-estima", o que proporciona um grande número de seguidores.
Contudo, esta tendência para a espiritualidade individual em detrimento das religiões tradicionais está a ser acompanhada por um "certo conservadorismo institucional", diz o professor da Universidade Nova de Lisboa. Considera que o Estado português está a dificultar esta alteração de tendências por seguir uma linha "demasiado conservadora e autoritária". "Algumas das leis impostas pelo nosso Governo neste campo, negam a liberdade religiosa", concretiza Moisés Espírito Santo.