Por Catarina Rodrigues e Verónica Sousa



Projecto das futuras instalações

Preservar documentos que se encontram em risco de perda iminente é uma das principais funções desempenhadas pelo Centro de Documentação/ Arquivo Histórico dos Lanifícios, uma entidade sob a tutela do Museu de Lanifícios da UBI.
O Centro de Documentação nasceu da necessidade de salvaguardar muitos arquivos empresariais existentes na Covilhã. Documentos que pelos mais variados motivos estavam em risco de se perder. Para evitar essa situação era necessário ter instalações adequadas, o que só foi possível em 1997, através do projecto Arqueotex, financiado pelo FEDER 10 e coordenado pela UBI.
Surgia assim o Arquivo Histórico dos Lanifícios que se ergue ainda hoje num edifício cedido pela Reitoria da UBI, instalações que, em tempos, pertenceram à empresa têxtil "José Paulo de Oliveira Júnior".
No Centro de Documentação é desenvolvido um trabalho que visa a preservação de uma parte da história da Covilhã e do sector têxtil que tanto a caracteriza. A documentação, bem como outros produtos de empresas que foram extintas ou ficaram desactivadas, têm uma grande carga de informações preciosas. Do Arquivo Histórico fazem parte documentos provenientes de empresas públicas, privadas, instituições nacionais e até organismos locais. Segundo Elisa Pinheiro, directora do Museu de Lanifícios da UBI, "existem no Centro documentos e exemplares únicos que devem ser preservados".
O trabalho realizado no Arquivo Histórico não se reduz à recolha da documentação sobre a temática dos lanifícios. Há todo um conjunto de etapas a seguir. O tratamento e organização dos documentos, que muitas vezes chegam em péssimo estado é fundamental. A conservação segundo os critérios de segurança e o tratamento de dados são também passos importantes seguidos com todo o rigor. A directora do Museu confessa que "existem ainda toneladas de documentos a tratar".


Futuras instalações do Centro de Documentação



Casa nova, vida nova

O Arquivo Histórico não está, até ao momento, aberto ao público em geral. Elisa Pinheiro considera que "isso só será possível quando a documentação estiver catalogada e inventariada". Esta situação irá alterar-se com a mudança do Centro para as novas instalações. O edifício onde funciona actualmente não consegue responder às cargas de documentação recebidas e o trabalho não pode ser realizado nas melhores condições. O actual edifício encontra-se em vias de classificação e não pode ter intervenções que o adulterem. Face a estes motivos, o Reitor decidiu que o Centro de Documentação irá ocupar instalações criadas de raiz no edifício da "Real Mendes Veiga", uma antiga fábrica localizada junto à Ribeira da Goldra. Segundo a directora do Museu "considerou-se conveniente alojar o Centro de Documentação nesse novo espaço". As obras já começaram. Foram feitas várias alterações de projecto mas, os trabalhos continuam e a data de conclusão está prevista para dentro de um ano.
Elisa Pinheiro garante que "está projectada uma belíssima sala de acesso ao público no sítio mais bonito do Museu pois é importante que os investigadores e visitantes se sintam bem e disponham das melhores condições de trabalho". Atrair o público é um dos principais objectivos da mudança para as novas instalações.
Actualmente, os destinatários primordiais do Centro de Documentação são investigadores de várias áreas de conhecimento, museólogos, estilistas de moda, empresários e técnicos têxteis. Todo um conjunto de pessoas que pelos mais diversos motivos contribui para que as finalidades do Museu possam ser cumpridas.
A existência do Arquivo histórico foi uma mais valia para o curso de Design Têxtil e do Vestuário da UBI. Os interessados podem encontrar neste Centro documentos e material que pode ser estudado, analisado e trabalhado.


Uma esperança para o sector têxtil

Actuais instalações do Centro de Documentação

Uma das finalidades do Centro de Documentação é apoiar a indústria de lanifícios através da disponibilização dos conhecimentos e da informação técnica adquiridos ao longo da história. Numa época em que o sector têxtil atravessa uma situação difícil, um dos objectivos do Centro é precisamente apontar uma linha de desenvolvimento para os lanifícios. Segundo Elisa Pinheiro "a aposta na inovação e na criatividade é fundamental". A directora do Museu acrescenta que "a criatividade tem que ser fortemente alicerçada numa memória quanto mais ampla melhor".
O Centro de Documentação preocupa-se com a preservação da memória dos têxteis e disponibiliza-a à investigação com o objectivo de "incentivar os criadores de moda a criar" refere Elisa Pinheiro. Justifica-se assim, todo o apoio que a base de dados do Arquivo Histórico recebeu da Comunidade Europeia.
Este arquivo foi considerado de tal modo inovador que gerou a criação de encontros de Arquivos Empresariais. Neste momento a própria Torre do Tombo está a dar uma atenção muito especial aos Arquivos Empresariais, tendo presente o exemplo, da criação que se desenvolveu na Covilhã.
O Centro de Documentação desenvolve um trabalho que muita gente desconhece. Actualmente é composto por cerca de 20 fundos de Arquivo em grande parte provenientes de empresas têxteis que faliram nas décadas de 70, 80 e 90.

 




Debuxadores desenvolvem um trabalho muito importante



Antigos criadores de moda



Um dos objectivos do Arquivo Histórico é criar uma base de dados que possa ser consultada por todos os que desejarem. Para que essa finalidade se concretize o Centro de Documentação conta com o trabalho de dois técnicos de debuxo.
Raúl Peixeiro e João Lázaro são debuxadores em fase de pré-reforma. Através de acordos ocupacionais do Instituto de Formação Profissional, estão a colaborar com o Centro no sentido de ser possível identificar muito material têxtil que está integrado no Arquivo. João Lázaro compara a interpretação das amostras de vários padrões a uma pauta de música que só o debuxador compreende, tal como o músico.
"Um debuxador é um criador de moda" define Raúl Peixeiro. Actualmente já não se formam debuxadores mas sim engenheiros têxteis.
Os técnicos de debuxo do Centro de Documentação estão a trabalhar num fundo muito importante que é constituído por cerca de 35 mil amostras têxteis que pertencem a uma colecção excepcional do ponto de vista estético. É a colecção de René Ferdinand Delimbeuf cuja família doou ao museu todo o espólio.
Esta colecção é composta por catálogos de amostras e livros de fabricação que vão desde 1936 a 1962. A função dos debuxadores é passar todos os dados técnicos para uma ficha que será posteriormente introduzida na base de dados informática. Os debuxadores identificaram mais de 20 mil amostras das quais oito mil já estão inseridas na base de dados. Com a conclusão deste trabalho toda a informação estará disponível na Internet. Os interessados, na sua grande maioria industriais e designers têxteis, terão que pagar uma quantia simbólica para aceder à base de dados.