Por Liliana Correia
"Uma
manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor
Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco insecto".
É deste modo que Kafka introduz a história
de Gregor, um caixeiro-viajante "obrigado" a
deixar de ter vida própria para suportar financeiramente
todas as despesas de casa.
Numa manhã, ao acordar para o trabalho, Gregor
vê que se transformou num insecto horrível
com um "dorso duro e inúmeras patas".
A príncipio, as suas preocupações
passam por pensamentos práticos relacionados com
a sua metamorfose.
Depois, as preocupações passam para um estado
mais psicológico e até mesmo sentimental.
Gregor sente-se magoado pela repulsa dos pais perante
a sua metamorfose. Apenas a irmã se digna a levar-lhe
a alimentação, mas mesmo assim a repulsa
e o medo também se começam a manifestar.
A metamorfose de Gregor vai além da modificação
física. É sobretudo uma alteração
de comportamentos, atitudes, sentimentos e opiniões.
Gregor passa a analisar as coisas que o rodeiam com muito
mais atenção. Outra metamorfose ocorre no
seio familiar: o pai volta a trabalhar, a irmã
também arranja um emprego e passam a alugar quartos
na própria casa onde habitam. As atitudes dos pais
perante o filho retratam ao leitor a ideia que este era
apenas o "sustento" da casa.
A metamorfose de Kafka não conta apenas a história
de um homem que se transformou num insecto. É sobretudo
uma história de alerta à sociedade e aos
comportamentos humanos.
Nesta história, Kafka presenteia-nos com a sua
escrita sui generis, retratando o desespero do homem perante
o absurdo do mundo.
|