José Geraldes
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Lições de mãe
As mães
merecem toda a nossa vida. E é durante a sua existência
que lhes devemos mostrar o nosso carinho. E não
acantoná-las na solidão de um lar
"Com três letrinhas
apenas / Se escreve a palavra mãe. / Que é
das palavras pequenas, / A maior que o mundo tem. "
A quadra de Heloísa Cid resume, de forma expressiva,
o significado do Dia da Mãe que se celebra, habitualmente,
no primeiro domingo de Maio.
Foi nos Estados Unidos que, por iniciativa do presidente
Wilson, se começou a realizar uma festa, segundo
as suas próprias palavras, "como expressão
pública do nosso amor e do nosso respeito pelas
mães da nossa terra." A sua origem deve-se
ao facto de um conjunto de pessoas quererem agradecer
a ajuda dada pela mãe de uma jovem de nome Ana
Javis.
A jovem recusa agradecimentos pessoais mas, perante a
insistência das pessoas, propõe que se prestasse
uma homenagem às mães.
"Tive sempre muito amor à minha mãe.
É a ela que deveis estar gratas, pois foi quem
me educou. Minha mãe nasceu em Maio. Festejai as
mães no dia do seu aniversário."
A festa passa, então, da América para a
Europa e hoje assinala-se em todo mundo.
Uma vasta literatura nasce tendo por tema as mães.
Ficaram célebres cartas de artistas consagrados
às suas mães de que são exemplo as
deixadas por Mozart. Também a pintura nos legou
verdadeiras obras-primas. E igualmente o teatro e o cinema.
O poeta brasileiro Guilherme de Almeida traduziu uma prosa
do chileno Ramón Angel Jara digna de figurar numa
antologia sobre as mães. Eis o texto : "Uma
simples mulher existe que, pela imensidão do seu
amor, tem um pouco de Deus. Pela constância da sua
dedicação, tem muito de anjo. Que, sendo
moça, pensa como uma anciã e, sendo velha,
age com as forças todas da juventude. Quando ignorante,
melhor do que qualquer sábio desvenda os segredos
da vida e , quando sábia, assume a simplicidade
das crianças.
Pobre, sabe enriquecer-se com a felicidade dos que ama,
e, rica, empobrecer-se para que o seu coração
não sangre ferido pelos ingratos. Forte, entretanto,
estremece ao choro de uma criancinha, e, fraca, alteia-se
com a bravura dos leões. Viva, não lhe sabemos
dar valor porque à sua sombra todas as dores se
apagam, e, morta, tudo o que somos e tudo o que temos
daríamos para vê-la de novo, e dela receber
um aperto dos seus braços, uma palavra de seus
lábios."
Angel Jara comenta : " Não exijam de mim que
diga o nome dessa mulher, se não quiserem que ensope
de lágrimas este álbum porque a vi passar
no meu caminho. Quando crescerem seus filhos, leiam para
eles esta página. Eles lhes cobrirão de
beijos a fronte. E dirão que um pobre viandante,
em troca da sumptuosa hospedagem recebida, aqui deixou
para todos o retrato da sua própria Mãe."
As mães merecem toda a nossa vida. E é durante
a sua existência que lhes devemos mostrar o nosso
carinho. E não acantoná-las na solidão
de um lar como se fosse um armazém em que muitas
vezes se sente infeliz . O que as mães mais desejam
não são prendas mas o afecto e as carícias
dos seus filhos. Não basta apenas uma visita de
vez em quando para tranquilizar a consciência. Mas
a palavra diária, a melhor, a que se diz a quem
se ama mais neste mundo.
Bertolucci, conhecido realizador de cinema, desabafa :
"Neste mundo, o amor, só vi na minha mãe."
E sabe-se que os maiores criminosos manifestam a maior
afeição pelas suas mães.
Parafraseando Fernando Pessoa, o melhor do mundo são
as mães.
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