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Práticas de Consumo Globais
e Locais
Saiu recentemente a obra de Barrie Gunter e Adrian Furnham
"As Crianças como Consumidoras - Uma Análise
Psicológica do Mercado Juvenil". Os autores
partem da constatação que, com a globalização
dos media, o estilo de consumismo associado às
modernas sociedades industriais ocidentais se difundiu
mundialmente. E de que, de forma paralela, o mercado infantil
ganhou uma importância extrema, provavelmente como
nunca o tinha feito, sobretudo por dois motivos: 1) pelo
impacto que as mensagens dirigidas às crianças
têm junto delas; 2) papel que as crianças
podem desempenhar ao influenciar a compra de produtos
pelos pais, em cerca de 172 biliões de dólares,
só nos Estados Unidos.
Os autores concluíram que a "socialização
do consumidor no que diz respeito à criança
começa numa idade muito precoce", ou seja,
a influência parental é muito importante
nos modelos de consumo. No entanto, importante é
também o facto dos hábitos consumistas da
infância e juventude serem um produto de outros
agentes socializantes, como por exemplo, a família,
grupo de pares e meios de comunicação social.
No final do livro levantam uma questão muito importante,
a questão da protecção dos consumidores
infantis, porque as estratégias desenvolvidas pela
aliança indústria/publicidade a fim de conquistar
a área da infância é, desde muito
cedo, um mercado ávido e reivindicativo perante
o poder de compra que neste caso os pais consubstanciam
("as pessoas são livres de fazerem o que querem"
e "eles querem", serão estes alguns dos
argumentos dos que não concordam com esta análise.
Só relembrar que estes são os mesmos argumentos
utilizados pelos pedófilos). É possível,
pela primeira vez na história, definirem-se estratégias
de marketing global dirigida às crianças
e jovens. Há mesmo autores a designarem estes grupos
por "Generation Market Clout" (geração
alvo de mercado), porque os jovens deixaram de ser produtores
para serem consumidores, isto é, na era do global
e dos actuais processos de globalização
o conceito de cidadão é substituído
pelo de consumidor.
Mesmo em relação às actividades de
tempos livres, 80% dos jovens portugueses gostam de ver
montras nas ruas ou centros comerciais (por contraste
aos baixos valores de participação cívica,
por exemplo), segundo os resultados do inquérito
aos jovens portugueses (15-29 anos) - "Condutas de
Risco, Práticas Culturais e Atitudes perante o
Corpo" - realizado pelo Instituto de Ciências
Sociais, através do Observatório Permanente
da Juventude, coordenado por Manuel Villaverde Cabral
e José Machado Pais (ainda não publicado
oficialmente).
Não será uma forma de exploração,
a actual promoção da infância e juventude
em consumidores privilegiados? E numa sociedade semiperiférica
como é Portugal, esta "compulsão ao
consumo", utilizando a terminologia de Hespanha (2001:220),
que se traduz, algumas vezes, no endividamento das famílias,
traduz não só uma forma de risco social
mas também uma forma de globalização
insidiosa, uma globalização de baixa intensidade,
já que as estratégias cumulativas de muitas
famílias portuguesas caracterizam-se, muitas vezes,
num desajustamento entre as necessidades reais e formas
de respostas sociais.
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