Covilhã, manhã de sol. Ultimam-se os preparativos
para o cortejo da feira quinhentista. O percurso é
da Praça do Município até ao Jardim
Público. Participam mais de mil alunos e professores
do ensino pré-básico ao secundário
do concelho da Covilhã. Ao som dos tambores, a
aventura começa pouco depois das dez horas da manhã.
Estamos no reinado de Manuel I. El Rei veio à Covilhã
assistir à feira anual. Montado num imponente cavalo,
o monarca dirige o cortejo acompanhado de Sua Majestade,
a Rainha. A seu lado seguem as aias e o pálio com
o reverendíssimo Bispo da Guarda.
"Nesta época temos muitas guerras. Vou defender
sempre o Rei e a Rainha", enfatiza o soldado peão
Filipe Samuel, 12 anos. Samuel traz uma farda, um escudo,
lança e capacete. Pertence às tropas da
comarca da Covilhã.
Sem bênção não há
feira
"Sem bênção não há
graças de Deus para esta feira. Só depois
da benção é que a feira pode começar.
Vou recitar em latim. Espero que me entendam", sublinha
Horácio Silva, Bispo da Guarda. O prelado defende
que "o bispo tem um grande função,
porque é o representante do Papa".
No cortejo seguem, entre outros, alquimistas, tecelões,
cartomantes, bobos, taberneiros, cartógrafos, boticários,
barbeiros, vendedores de animais e soldados. Todos se
dirigem para a feira de Santa Maria que se realiza desde
o dia 15 de Agosto de 1260.
Jardim Público. O mordomo de El Rei lê a
carta de feira: "Quem agredir os homens que vêm
a esta feira pague-me seis mil soldos e o dobro do que
tomar ao respectivo dono e todos os que vierem a esta
feira paguem a minha portagem e todos os direitos que
devem pagar". O Bispo da Guarda pronuncia a bênção.
Começa a venda de produtos.
O Rei, a cavalo e sem coroa
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"Gostaria de ajudar os pobres"
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O ambiente é de festa. A azáfama é
grande. Vende-se de tudo um pouco. Produtos alimentares,
tecidos, cartas de mar, caravelas etc. Ouvem-se pregões.
"Comprai panos!", dizem os tecelões.
Ângela Castilho, 35 anos, é uma senhora nobre.
"No século XVI, a mulher estava muito submissa
ao marido. Hoje os tempos são outros. Vamos vender
o máximo possível para ajudar Timor",
assegura.
"Os nossos donos são muito maus. Fazem-nos
trabalhar muito", lamentam os escravos que vieram
de África. Esperam o dia da libertação.
É uma mancha na acção de D. Manuel.
A escravatura só seria abolida no século
XIX.
Joel Silva, 10 anos, é frade franciscano. "Gostaria
de ajudar os pobres", sublinha. Joel promete escrever
uma carta para Timor.
"Ser bobo no século XVI é muito bom.
Somos muito divertidos e ajudamos a divertir", explica
José Rosa, 10 anos. O bobo acredita na solidariedade
para com as crianças de Timor.
Ângela Cavaca, 17 anos, camponesa, deixa uma mensagem
para todos os timorenses: "Com esperança tudo
vale a pena, quando a alma não é pequena".
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