Por Ricardo Cordeiro


A primeira mesa do debate abordou os métodos de procurar emprego pela primeira vez

"Como procurar o primeiro emprego", "Internacionalização das carreiras" e "Qual a reestruturação curricular face à ligação Universidade/Mercado de trabalho", foram os temas em debate no Fórum de Emprego, organizado pela AAUBI, que decorreu nos dias 10 e 11 de Abril, com pouca afluência de público.
A primeira mesa de debate, cujo tema era "Como procurar o primeiro emprego", foi moderada por Américo Paulino, director do Centro de Emprego da Guarda. Marcaram presença Marina Afonso, conselheira de orientação profissional do Centro de Emprego da Guarda, Lurdes Monteiro, técnica superior do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) da Guarda, João Morgado, membro da direcção da Associação Nacional de Jovens Empresários (ANJE) e José Matias, empresário.
Américo Paulino começou por tecer algumas considerações sobre o panorama actual do desemprego na zona de Castelo Branco, Covilhã e Guarda. Apesar da percentagem de desempregados à procura do primeiro emprego ter descido de 1999 para 2001 "há uma tendência de crescimento dos desempregados com habilitações literárias superiores", afirmou. "Estamos numa região em que ainda se sentem características de interioridade como o envelhecimento da população e algumas limitações na oportunidade de criação de emprego", prosseguiu. O director do Centro de Emprego da Guarda disse ainda que "é cada vez mais longo o percurso que um jovem tem que percorrer para alcançar a inserção no mercado de trabalho. O próprio conceito significa que será apenas o primeiro de muitos".
Marina Afonso abordou questões como a elaboração dos currículos por parte dos estudantes finalistas e o comportamento que devem ter quando são confrontados com uma entrevista de emprego. Comentou também as características actuais do mercado de trabalho e afastou a ideia do emprego ser para toda a vida. "O mercado de trabalho exige adaptabilidade e flexibilidade. Não temos que exercer sempre a mesma actividade", concluiu.
Lurdes Monteiro falou sobre o programa de estágios profissionais que tem como objectivo inserir os jovens recém-licenciados na vida activa, complementando uma qualificação pré-existente com uma formação prática a decorrer em contexto laboral.


"Ser empresário é fazer um pouco de tudo", referiu José Matias, engenheiro agrónomo



Criar uma empresa

Ajudar e esclarecer os jovens sobre a criação da própria empresa são os objectivos principais da ANJE. João Morgado adverte que "a grande maioria das empresas nasce quando, no decorrer da sua actividade profissional, a pessoa chega à conclusão que está perante uma lacuna do mercado e uma oportunidade que poderá ser aliciante explorar por conta própria. Mas é preciso avançar com moderação e com os pés bem assentes na terra", conclui.
O empresário José Matias contou a experiência pessoal de quem teve muitas dificuldades para entrar no mercado de trabalho quando saiu da universidade. "Em 1997, quando terminei o curso de Engenharia Agrícola, comecei por enviar currículos e ir a várias entrevistas, onde por vezes me chegaram a humilhar", contou. Farto desta situação decidiu ir trabalhar com os pais que tinham uma pequena empresa de queijos na região de Seia. Graças aos conhecimentos adquiridos na universidade, desde a sua entrada que a empresa tem tido um crescimento acentuado. No entanto, o mundo empresarial não é fácil. "Ser empresário é fazer um pouco de tudo, desde ordenhar ovelhas a levar o leite para a queijaria ou a tratar dos papéis", afirmou o jovem empresário.

A livre circulação no espaço europeu

"A Internacionalização das carreiras", foi o segundo tema em debate. Participaram Bertina Machado, euroconselheira da Delegação Centro do IEFP, Sofia Correia e Pedro Esteves, ambos do Gabinete de Relações Internacionais da UBI. Foi moderador o vice-reitor da UBI, José Carrilho Gonçalves.
Neste segundo debate, relembrou-se um direito fundamental que assiste todos os cidadãos de países membros da União Europeia, a livre circulação no Espaço Económico Europeu (EEE). Foram mencionados alguns programas que ajudam os cidadãos a arranjar emprego na Europa, como a EURES, uma rede de cooperação que mobiliza os serviços públicos de emprego dos países do EEE, e o programa Leonardo Davinci, de estágios em empresas da União Europeia.
A Declaração de Bolonha, que tem como objectivo principal a construção da Área Europeia de Ensino Superior, também foi abordada. Segundo o vice-reitor, "a Declaração de Bolonha fala em compatibilidade, convergência, autonomia e diversidade. Contudo, estas perspectivas não estão claras nas sociedades, competindo aos governos europeus a melhoria desta mobilidade social".
Participaram no último tema em debate, dedicado à "reestruturação curricular face à ligação universidade/mercado de trabalho", Júlio Dinis, representante do Centro de Formação Profissional para a Indústria de Lanificios (CILAN), Rui Miguel, director do curso de Design Têxtil e do Vestuário, Rogério Palmeiro, do Gabinete de Estágios da UBI e Eduardo Ribeiro, representante dos estudantes da UBI. José Miguel Oliveira, Presidente da AAUBI foi o moderador deste debate.
Segundo Júlio Dinis "são de evitar cursos que não tenham saídas profissionais. O que deve haver são cursos de banda larga, que permitam às pessoas apontar uma direcção ou outra como saída profissional", referiu.
Já Rui Miguel defende a ideia de que "o ensino deve estar sempre adequado à evolução para que ele próprio seja a alavanca dessa mesma evolução. É necessário adequar os cursos à procura dos empregadores e dos alunos".



Alunos pedem cada vez mais

Rogério Palmeiro afirmou que grande parte dos alunos finalistas deixaram de ter a preocupação de querer apenas um estágio, para passarem a querer escolher a empresa que mais lhe convém. "Primeiro é o estágio remunerado, depois passa a ser o estágio ao pé de casa, depois é o estágio para a área que interessa do curso e, por fim, querem o estágio para a área de residência e para a área do curso. Qualquer dia, em vez de estágio, estão a pedir emprego!", desabafa Rogério Palmeiro.
O desfasamento entre a matéria leccionada na Universidade e o mundo do trabalho é uma das queixas mais correntes dos alunos. Rogério Palmeiro é da opinião de "que devia haver um estágio incorporado na parte final do curso, para que o choque não seja tão grande". O técnico do Gabinete de Saídas Profissionais criticou ainda algumas empresas que se aproveitam de programas como os estágios do IEFP. "Há um grande número de empresas que usa estes programas numa vertente que não é a da valorização, da formação, mas sim da exploração. Os programas foram criados com um objectivo positivo, mas há um conjunto de grandes empresas que os desvirtuaram".
Eduardo Ribeiro criticou algumas empresas que se aproveitam dos estagiários e apontou algumas lacunas no sistema de ensino. Com a certeza de que o mercado de trabalho está muito difícil, "é importante que haja uma mudança de mentalidade, tanto da parte das empresas, como dos docentes e dos alunos", concluiu.