  
                          José Geraldes 
                         
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                       Assassinos na estrada 
                       
                       
                      Depois de uma "ponte" 
                        ou mini-férias, o cenário repete-se : mais 
                        acidentes, mais transgressões do Código 
                        da Estrada, maior número de mortos. As causas são 
                        também sempre as mesmas, haja ou não haja 
                        Tolerância Zero: excesso de velocidade, álcool, 
                        manobras perigosas e uma falta de civismo que se transformou 
                        num pecado crónico dos portugueses.  
                        As últimas mini-férias da Páscoa 
                        não foram excepção à regra. 
                        Seja nas auto-estradas ou estradas secundárias, 
                        o panorama da tragédia não mudou. O desplante 
                        chegou até ao ponto de três jovens conduzirem, 
                        na distância de três quilómetros, um 
                        jipe em contramão. 
                        A repetição destes acidentes questiona-nos 
                        se vale a pena continuar a escrever sobre o assunto. A 
                        resposta afigura-se-nos afirmativa. A técnica social 
                        da repetição acabará por dar resultados. 
                         
                        Uma das causas invocadas para haver maior número 
                        de acidentes e que acima referimos, tem a ver com a falta 
                        de civismo. O português conduz como se fosse dono 
                        da estrada, sem o mínimo respeito pelos direitos 
                        dos outros. E nem sequer pensa que está a transformar-se 
                        num potencial assassino de outras vidas humanas. 
                        Alguns conduzem por exibicionismo, para mostrarem a potência 
                        dos seus carros, numa manifestação provinciana 
                        de novo-riquismo. Outros exibem um verdadeiro machismo 
                        impossível de aceitar nos tempos de hoje. Um terceiro 
                        grupo anda sempre com pressa e toca de fazer ultrapassagens 
                        onde lhe apetece pisando o risco contínuo e pela 
                        direita.  
                        Há ainda certos motoqueiros que "voam" 
                        a mais de 200 quilómetros por hora ou fazem "cavalinhos" 
                        para impressionar e dar nas vistas.  
                        Pode-se classificar de verdadeiro flagelo este morticínio 
                        nas estradas portuguesas.  
                        O novo Código da Estrada é mais rigoroso. 
                        No entanto, as infracções continuam a existir. 
                        Impõe-se uma mudança de mentalidade. Para 
                        que esta mudança tenha êxito, é absolutamente 
                        necessária uma educação de base. 
                        E a começar no ensino básico.  
                        O civismo não se inculca de um momento para o outro. 
                        Exige a colaboração de todos os agentes 
                        educativos. A família desempenha, também 
                        neste capítulo, um papel fundamental. Papel a ser 
                        continuado pela escola. 
                        A sociedade em que vivemos, marcada pelo laxismo, não 
                        ajuda nada neste particular. Daí a maior exigência 
                        de todos os intervenientes neste processo. 
                        A este propósito, a atitude de um juiz do Tribunal 
                        de Viseu para com um motoqueiro prevaricador merece uma 
                        referência. 
                        A um motoqueiro que fazia "cavalinhos", o juiz 
                        aplicou a pena "pedagógica" de durante 
                        um mês visitar feridos politraumatizados nos serviços 
                        de Ortopedia do hospital da cidade. 
                        Se muitos dos que cometem faltas na condução, 
                        vissem os doentes no Alcoitão com as mazelas em 
                        consequência de acidentes na estrada, decerto o 
                        seu comportamento seria diferente. E, ao pegarem no volante, 
                        pensariam duas vezes como iriam conduzir. 
                        Declare-se guerra à irresponsabilidade e à 
                        falta de civismo. 
                         
                         
                          
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