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                       O humor cortante de Beckett subiu ao palco. O monólogo 
                        interpretado e encenado por Miguel Borges, esteve em cena 
                        no Teatro-Cine na passada sexta feira, 5. 
                        "O Primeiro Amor", publicado em 1970, faz parte 
                        de um conjunto de textos que contam a vida de um vagabundo. 
                        Este homem é um contador de histórias, da 
                        sua história, que não sabe ao certo se é 
                        sua. Conta a morte do pai e os passeios que dava no cemitério. 
                        Conta o amor que viveu, ou não viveu, não 
                        sabe muito bem. Conta um nascimento, o do seu filho, que 
                        também não está certo de ter acontecido. 
                         
                        A sua vida é negra, vazia, sem sentido. O amor 
                        é algo que o magoa, mas ao mesmo tempo, fascina. 
                        Miguel Borges, o único actor em palco, "adorou 
                        o texto" quando o leu. Mas a relação 
                        com "O Primeiro Amor" mudou: viu que o texto 
                        "era muito sarcástico, mas tinha um humor 
                        fascinante". Para o actor, o interesse da peça 
                        é o facto de ser sarcástica, "torna-a 
                        mais difícil e interessante". 
                        A peça tem lugar num cenário azul, onde 
                        se encontra uma cadeira, uma mesa e um chapéu. 
                        O chão está coberto de terra escura, como 
                        nos cemitérios. Nas mãos do actor estes 
                        poucos elementos transformam-se em diferentes lugares 
                        e objectos. 
                      
                         
                           
                             
                               A história de um vagabundo 
                              que anda de costas para a vida 
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                              Neste monólogo, Miguel 
                              Borges tem dois papéis: o de actor e o de 
                              encenador. "O actor é o encenador de 
                              si próprio, tem que ser natural", explica. 
                              O texto foi traduzido por Francisco Frazão 
                              e Miguel Borges faz uma interpretação 
                              rigorosa das palavras de Beckett. "Tu não 
                              podes nem pôr uma palavra a mais, nem tirar 
                              uma palavra. Está lá tudo e o texto 
                              basta", desabafa o actor. 
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