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Where are you público?
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(Sondagem á boca das urnas: Bom dia, a Sra. quis
morrer?)
Quando votamos, não depositamos apenas pedaços
de papel numa urna. Fazemos muito mais... Por cada um
desses retalhos, enterramos um português maior de
idade, no pleno exercício das suas incapacidades
mentais.
As eleições últimas de 17 de Março,
não constituíram excepção.
Uma vez mais, ficámos aprisionados nesta caixa
particular e especial da ditadura das democracias representativas;
e mais uma vez, ao contrário do que foi ventilado
na imprensa escrita e falada, através das intermináveis
análises dos canais entupidos e dos comentários
subalternizados das válvulas que se abrem e fecham
só quando o "sinal certo" é recebido,
não houve vários vencedores e vários
derrotados, nem só vencedores ou só perdedores,
ou triunfalismo da "direita" vs. derrocada da
"esquerda". Em termos estritamente numéricos,
o que se verificou depois do escrutínio, foi a
consolidação de um Grande Vencedor e a emergência
de 10 milhões de derrotados. E porque a vitória
tem outros significados que a simples separação
taráxica e redutora entre hemisférios ideológicos
- não é o rendimento mínimo que faz
do PS um partido de "esquerda", nem o reforço
da privatização parcial do Serviço
Nacional de Saúde que faz do PSD uma força
de "direita" -, o grande vencedor não
foi esta última (Paulo Popular incluído),
mas o Bloco Central, com os seus 197 deputados eleitos.
Em termos qualitativos, o que fundamentalmente ressalta
destes resultados, é tão só o novo
ímpeto trazido por uma fracção da
classe dominante na manutenção do controlo
e "coesão" sociais, que ameaçavam
desagregar-se graças à incúria e
à incompetência de outra fracção
dessa classe, no exercício do Poder.
Ambas fracções concorrem portanto para firmar
este narco-estado, que visa a intensificação
da insensibilidade dos seus súbditos e no qual
os políticos funcionam como testas de ferro.
Todo o processo que desembocou nesta "transição
pacífica", é aliás, prova irrefutável
deste comportamento mimético - a campanha foi paupérrima
quanto a propósitos e propostas de actuação
nas principais esferas de intervenção, regulação
e intermediação públicas: para quando
e em que moldes a reforma do estado e do sistema eleitoral,
quem vai fazer o quê, quando, em quanto tempo, com
que custos e com que objectivos; por outro lado, se os
"programas" não forem concretizados,
quem vai ser responsabilizado e que mecanismos inovadores
serão accionados para lidar com incumprimentos,
incompetências, malversação de fundos
e corrupção, foram questões abstrusamente
afloradas e à espera ainda de dinâmicas de
confrontação e participação
alargadas.
Como é moeda corrente que os políticos têm
que andar sempre rodeados da "massa", encontramos
aqui a segunda grande inferência nefasta destas
eleições: não é o PC que está
anquilosado (o PC está como sempre, igual a si
mesmo), mas a prática de uma verdadeira cultura
transversal e visceral de responsabilização,
prioritariamente assumida e aperfeiçoada por cidadãos
exigentes, conscientes e não (centralmente) bloqueados
na melopeia redundante dos interesses corporativos e nas
questões irrelevantes, evidenciadas nos primeiros
planos da necrofagia mediática.
Há por isso, um sentido seráfico nas palavras
de António Sérgio, quando se referia às
"pedras mortas" da situação: nós,
os cidadãos-eleitores, que fazemos girar este ciclo
vicioso da estupidez política - temos os eleitores
que temos, porque temos os políticos que temos
e porque temos os políticos que temos, temos a
educação, a saúde, as finanças
e os eleitores que temos; e porque temos os eleitores
e os políticos que temos, não se antevê
proximamente que deixem de nos representar os "animais
políticos" que nos governam (que de animais
têm muito, mas de políticos, muito pouco),
e que são no fundo os agentes que vigiam esta poderosa,
profunda e irreprimível hiber-Nação
colectiva.
Faltou nestas eleições o branco expletivo
que aos sufrágios anteriores tem também
faltado: 80 ou 90% de boletins em branco, que não
confiram um único eleito sequer e que sejam a atitude
digna de uma sintomatologia psíquica, sensorial
e motora que revele raciocínio e interpretação
das questões e respostas-chave e que seja simultaneamente
a chave iniciática para acabar com os vivos-mortos,
que erradamente julgam estar na urna sepulcral a manifestarem
a sua vontade, o seu desejo e a consciência que
deles têm.
Contudo, coligindo os factos, outra vez hipotecámos
o futuro. Em cada voto "útil", em cada
adulto que enterrámos, encontramos a criança
que chora:
-Papá, porque é que
pesa como ferro e é absolutamente incompreensível
esta tua vontade de dar mais força a quem, mandato
após mandato, repete os erros e agrava as asneiras?
- Cala-te ou levas uma castanha de braço direito
(entumecido) que deixas logo de ver estrelas!
Consta que Niemeyer desenhou
numa parede do seu atelier a frase seguinte: "Só
quando a miséria se multiplicar e a esperança
desaparecer, haverá revolução".
Esperemos, para bem de todos, que esta fracção
governativa que agora surge, seja pior, muito pior que
a anterior.
1 Leia-se "O Erário
Público"
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