José Geraldes
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Vitória da ressureição
"Onde está, ó
morte, a tua vitória?". Esta é a pergunta
que se encontra em tons fortes na liturgia da Páscoa.
Depois do luto e das trevas de Sexta-Feira Santa, irrompe
triunfante, na madrugada de domingo, o grito da vitória
da luz. Cristo ressuscita para nunca mais morrer.
Os testemunhos deste acontecimento único atravessarão
os séculos. Milhões de homens e mulheres
darão a vida por esta verdade. Tertuliano, um cristão
célebre dos primórdios do cristianismo,
dirá: "Tudo o que somos, somo-lo enquanto
acreditamos na ressureição". E Paulo
de Tarso que, para conhecer Cristo, caiu do cavalo abaixo,
escreverá mais tarde: "Se Cristo não
ressuscitou, vã é a nossa fé".
Um cientista alemão, num gesto banal da vida, saboreou
a alegria desta verdade. Para poder investigar no maior
silêncio possível, alugou uma casa perto
de um convento de religiosas carmelitas. Pensou: "Agora
vou ter um silêncio permanente". Dias depois
começa a ouvir gargalhadas estridentes a revelarem
uma alegria imensa. E interrogava-se sobre as razões
de risos tão frequentes. Agnóstico, não
descortinava as causas de tanta alegria. E admirava-se
de ver aquelas mulheres tão felizes. Um dia resolve
ir falar com a Madre Superiora, que lhe disse serem as
religiosas "esposas de Cristo". Surpreendido,
o cientista responde-lhe que Cristo havia morrido, há
dois mil anos. A Madre, num sorriso aberto, declara-lhe:
"Engana-se, Cristo venceu a morte e ressuscitou".
O cientista dispara: "Então, é por
isso que são tão felizes?". Resposta
imediata da Madre : "Sim, nós somos testemunhas
da ressureição".
O mistério da morte e da ressureição
de Cristo continua hoje a ser referência para o
mundo. Mundo onde faltam coordenadas de orientação
para a vida. E onde a cultura da morte está a banalizar
a consciência do homem. A ressureição
ergue-se como nova luz a iluminar a História. Torna-se
sinal de esperança que nunca morre. A explicação
de que nada está perdido. De que vale a pena dar
a vida ao serviço do outro. O egoísmo deixa
de ter sentido, pois é a solidariedade que nos
impulsiona para as grandes causas e os grandes valores
perenes.
Daí o tomar verdadeiramente a sério a ressureição.
Escreve Martin Descalzo : "O mal da ressureição
de Jesus é que nem nós cristãos a
tomámos suficientemente a sério e reduzimo-la
à simples condição de milagre ou
a prova de outras coisas, em vez de ver o vertiginoso
valor que tem em si mesma". Este valor não
se mede por preços comerciais de produtos, serviços
ou cotações na bolsa. Vai muito além
de uma visão interesseira. E ultrapassa todos os
horizontes humanos. É um bem irrepetível
que nos lança nos braços de Deus. As ideologias
aqui nada contam, pois só o Amor explica o gesto
histórico de Cristo. Amor que é a nova aurora
do mundo. Amor que vence a própria morte.
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