João Alves
NC/Urbi et Orbi


Manuel Freixes recebeu António Guterres na despedida de funções governativas

O primeiro-ministro, António Guterres, despediu-se na segunda-feira, 25 de Março, de funções governativas, numa terra que considera, "desde sempre", a sua terra natal, apesar de lá não ter nascido: o Fundão. Guterres esteve, neste último acto oficial da sua legislatura, na autarquia fundanense, onde entregou ao presidente da Câmara, Manuel Frexes, algumas peças que recebeu enquanto primeiro-ministro, de modo a que estas possam ser expostas na nova sala-museu "António Guterres".
O autarca local, Manuel Frexes, destaca o facto de Guterres se despedir numa terra ao qual o prendem "laços intangíveis" e destaca a importância que o primeiro-ministro teve para a projecção da cidade, quer na tela nacional como na internacional. Frexes mostrou "orgulho por poder contar, entre os conterrâneos, com alguém que exerceu a prestigiada função de liderar os destinos de Portugal". O autarca salienta que, para além dos partidos, está a ética, no que concebe ser uma acção política válida. Por isso, diz que este foi um acto em que se fez "jus a alguém que exerceu política ao mais alto nível". Frexes afirma que Guterres foi um embaixador "destas terras beirãs" e prova disso é o facto de não ver "melhor depositário dos testemunhos dessas embaixadas do que esta terra. Aqui quis dar por terminado um ciclo político".
Por fim, o autarca apela a Guterres para que, nas possíveis funções que possa vir a desempenhar, "continue a bater-se pela afirmação do concelho".

"O microcosmos do País"

Emocionado e satisfeito, António Guterres expressou que, no salão nobre da Câmara apenas "encontrei amigos", enquanto desempenhou o cargo de presidente da Assembleia Municipal, "a função que mais gosto tive em desempenhar".
O primeiro-ministro relembrou tempos em que, com a sua família residente na freguesia das Donas, muito aprendeu. Por isso, diz ter uma dívida de gratidão para com o concelho. "Aprendi o que era a pobreza. Por isso, para mim, a política tem que ser a correcção de injustiças", salienta Guterres. E, segundo este elemento do Governo que agora cessa funções, também foi no concelho fundanense que aprendeu o que era a solidariedade. Embora saliente que, neste momento, os problemas de pobreza não sejam como há 20 anos atrás, esta acaba por existir de outras formas menos visíveis. Guterres compara mesmo o Fundão a um microcosmos que "espelha a realidade do País. Um núcleo urbano em crescimento, uma zona rural rica e outra pobre".
Neste seu último acto oficial, António Guterres relembrou os vários investimentos feitos pelo Governo, nos últimos seis anos, no distrito, e revelou confiança no futuro do concelho fundanense. "O Fundão poderá desempenhar um papel fulcral no eixo entre a Guarda e Castelo Branco", salienta, revelando estar sempre disponível para ajudar a cidade.

 



Sala-museu "António Guterres" com 72 peças

Na segunda-feira, 25, António Guterres ofereceu à Câmara do Fundão uma bandeira de Portugal que irá integrar o conjunto de peças que constituem a nova sala-museu com o seu nome. Uma bandeira nacional que revela um simbolismo que Guterres quis expressar: "Este objecto marca o período mais importante do meu Governo, quando contribuiu com passos concretos para a independência de Timor". E adianta que a bandeira foi oferecida pelos timorenses, no enclave de Oecussi, um local onde resistir ao poderio indonésio foi extremamente difícil.
Esta é, assim, a mais recente prenda dada pelo primeiro-ministro para o vasto espólio que constitui a "Sala António Guterres". Para além desta, cerca de 70 peças recebidas por Guterres estão em exposição e vão, posteriormente, integrar um espaço museológico mais vasto no Casino Fundanense. Entre os vários objectos oferecidos contam-se uma esfera armilar (oferta do Senado de Rio de Janeiro), um busto do Senador Eduard Kennedy, um chifre em madeira dado por Afonso Dlhakama, um par de luvas usadas pelo piloto Pedro Lamy no Grande Prémio de Adelaide (Austrália), três peças de cerâmica oferecidas pelo ex-Governador de Macau, uma mesa em mármore oferecida pelo presidente da República da Índia e uma bola de futebol assinada pela selecção nacional de sub-18. Para além disso, uma madrepérola oferecida por Yasser Arafat, um jarrão oferecido pelo presidente da República Popular da China, uma estatueta de homem em madeira dada por Nino Vieira, um relógio em ouro branco, safiras, um rubi e quatro esmeraldas oferecidas pelo príncipe Aga Khan, são outras das "preciosidades" que se podem encontrar naquele espaço museológico.