O som estéreo da poeira espacial
Stereolab | Sound-dust | Elektra Records | 2001


Por Sérgio Felizardo



"Sound-dust" marca o regresso do laboratório estereofónico franco-britânico às lides discográficas. Ao oitavo disco (e mais uma vez), os Stereolab não desiludem - um bocadinho só que seja - todos aqueles que se habituaram a ouvi-los e a reconhecer-lhes não só a evidente modernidade, como uma capacidade infinita de se aventurarem por caminhos de extraordinária intersecção estilística e referencial.
A poeira sonora que trespassa todos os temas e os torna tão semelhantes, como lhes concede, ao mesmo tempo, a capacidade de se distinguirem entre si, é de tal forma evidente que "Sound-dust" é, provavelmente o culminar de um apuramento que a banda tem vindo a perseguir ao longo dos anos. Do vigor sónico do inicio dos anos 90, aos devaneios pós-rock que se seguiram, sem deixar de lado o toldo kitsh, electro-pop-funk e lounge que cobre os trabalhos de anos mais recentes, está tudo em "Sound-dust". E depois, é preciso não esquecer, há a voz de anjo de Laetitia Sadier, naquele tom meio melancólico, meio desleixado, e as cavalgadas instrumentais quase épicas, a que não são alheios os célebres "toques de midas" dos "mágicos" norte-americanos Jim O´Rourke e John McEntire, e onde brilham alto os vibrafones, as flautas, as guitarras (tão flutuantes como acutilantes) e os teclados de sonho. É, enfim, o espaço aqui tão perto.