Foi decretada, pelo Tribunal da Covilhã, a falência
de uma das mais prestigiadas fábricas de confecções
de Belmonte, "a Luís Elvas, Lda" também
denominada Montebela. De facto, na sexta-feira, 8, final
do dia, os cerca de 220 trabalhadores da empresa foram
surpreendidos pelo administrador da fábrica, Domingos
Elvas, que lhes comunicou o que acabara de suceder. Na
segunda-feira, 11, o coordenador da União dos Sindicatos,
Luís Garra, foi a Belmonte confirmar a má
notícia, o que provocou um enorme clima de tensão
entre os operários, que pediam contas ao administrador
pelo sucedido.
"Tive informações que não são
animadoras. Não houve ainda quem quisesse pegar
na empresa", avisa Luís Garra. O dirigente
sindical afirma que tal acontece devido ao acumular de
dívidas por parte da empresa, mas também
pelo facto do imóvel não pertencer à
Montebela, mas sim a um dos filhos do anterior proprietário,
a quem a empresa teria que pagar rendas. "O administrador
judicial nem pode pôr o imóvel em hasta pública,
pois teria que repor o dinheiro das rendas em atraso",
explica Garra, que salienta que a respectiva acção
de despejo, "está a ser julgada".
"A Vila é um barril de pólvora"
Na Montebela trabalham cerca de 220 pessoas, entre as
quais alguns casais. E, pelos vistos, não haverá
grandes hipóteses de viabilização
da empresa. "Só tem máquinas e dívidas",
diz Luís Garra, pelo que "é mais barato
construir uma empresa nova que pegar nesta".
A juntar a isto, os trabalhadores reclamam o facto de
ainda só terem recebido 70 por cento do ordenado
de Fevereiro e temem o não pagamento de indemnizações.
Na segunda-feira, os trabalhadores decidiram terminar
as encomendas, durante esta semana, de modo a poderem
receber os ordenados em falta. Para Luís Garra,
"este era um problema para o qual se vinha alertando
há muito tempo. Belmonte é um barril de
pólvora. Quem não quiser ver isto, é
cego". O sindicalista, afirma já ter avisado
o anterior autarca, Dias Rocha, e o actual, Amândio
Melo, do perigo que constitui este concelho viver apenas
das confecções. "Dá impressão
que o poder político nada tem a ver com o concelho",
sustenta Garra.
Na Montebela o dirigente explicou quais os processos que
os trabalhadores deverão seguir agora para reclamar
os seus créditos e disse que terão que esperar
pela carta de despedimento do liquidatário judicial
para poderem passar a receber subsídio de desemprego.
No entanto, Garra assegura que o advogado da empresa ainda
está a equacionar pedir a suspensão da falência,
mas salienta que não garante quaisquer soluções
a curto prazo. Os trabalhadores que se mostraram disponíveis
em concluir as encomendas que tinham, temem, no entanto,
que o material depois desapareça, já que
garantem terem sido retirados calças e casacos
do armazém no último fim-de-semana. A solução
encontrada, para que tal não aconteça, pode
mesmo passar pela constituição de piquetes
que guardem a fábrica, de dia e de noite. Luís
Garra apelou ainda para que os operários pressionem
o poder político, de modo a encontrarem possíveis
saídas para a situação, embora reconheça
ser difícil. O sindicalista afirma que, nos últimos
anos, "as confecções deixaram de crescer
e tem havido, inclusive, uma redução de
postos de trabalho". No entanto, Luís Garra
diz não ter conhecimento de "nenhuma outra
confecção, neste concelho, que esteja em
risco de fechar".
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