|
O 8 de Março e a capacidade
de sonhar e agir
"A alavanca que
mudará o mundo tem o seu fulcro nos direitos humanos
e é accionada pelas mãos de uma mulher e
de um homem, com a força resultante da liberdade
e da justiça "
Tenho diante de mim rostos de mulheres que sempre admirei.
Maria Alda Nogueira, Simone de Beauvoir, Marguerite Yourcenar,
entre outras, destacam-se do pequeno rectângulo
vertical de um marcador para livros. Apesar de serem muito
diferentes entre si, o seu exemplo de mulheres lutadoras,
cada uma no seu campo específico, deu-me coragem
para as pequenas e grandes batalhas, com que, ao longo
da minha vida, me fui deparando. Com elas aprendi que
é preciso e possível trabalhar por uma vida
melhor, pelo direito à felicidade como direito
inalienável de cada ser humano.
E não foram só as mulheres com acesso à
instrução e à cultura que ousaram
sonhar e lutar. A luta das operárias têxteis
de Nova Yorque, no dia 8 de Março de 1857, exigindo
o direito ao voto e a diminuição da jornada
diária de trabalho de 14 para 10 horas, está
na origem do Dia Internacional da Mulher.
Por isso, cada 8 de Março é um momento de
espaço e de reflexão, mas também
de confiança de quem luta para transformar a vida
e sabe que a mudança é difícil, mas
possível.
O pequeno rectângulo de papel não cessa de
atrair-me. As mulheres nele representadas não precisam
de apresentação, no entanto, apetece-me
falar delas. Reparando melhor, sente-se determinação
quando nos detemos no rosto da professora de física
Maria Alda Nogueira, uma mulher que não se conformou
com o "colete de forças " intelectual
e político que o regime de Salazar lhe quis impor,
e, por isso, passou longos anos nas prisões fascistas.
E quem não conhece a escritora Simone de Beauvoir
? O seu ensaio "O Segundo Sexo" contribuiu para
que gerações de mulheres, e também
de homens, se apercebessem do papel essencial desempenhado
pelas mulheres na sociedade do seu tempo. A primeira mulher
eleita membro da Academia Francesa, Marguerite Yourcenar,
tem a expressão sábia de quem conhece profundamente
o tempo, a história e a humanidade. E esse conhecimento
está presente na "Obra ao Negro" e nas
"Memórias de Adriano".
Olhando para o verso do marcador de livros, leio um pensamento
que não posso deixar de reproduzir. "A
alavanca que mudará o mundo tem o seu fulcro nos
direitos humanos e é accionada pelas mãos
de uma mulher e de um homem, com a força resultante
da liberdade e da justiça ".
Para se conseguir construir alguma coisa é preciso
ser capaz de sonhar. Parafraseando a escritora e jornalista
Maria Lamas "Sonhar, para além do que via
através do quadrado da minha janela, foi o prazer
de todas as minhas idades".
|