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Gabriel Tarde e a teoria do
público
Cumprem-se hoje 159
anos do nascimento de um dos maiores vultos do pensamento
contemporâneo. Ignorado por muitos, incompreendido
por outros, Gabriel Tarde merece um lugar de destaque
nas Ciências da Comunicação.
Jean-Gabriel de Tarde, (mais conhecido por Gabriel Tarde)
foi filósofo, sociólogo, psicólogo,
juiz e criminologista. Nasceu em Sarlat na Dordogne francesa
a 12 de Março de 1843 e morreu em Paris a 12 de
Maio de 1904.
Tarde começa a sua carreira de investigação
primeiro na Criminologia publicando vários artigos,
nos quais entra em polémica com o criminologista
italiano César Lombroso. Para além da Criminologia,
publica também artigos nas áreas da Sociologia,
Filosofia, Psicologia e Economia. Critica a psicologia
das multidões de Gustave Le Bon ao afirmar que
vivemos na era dos públicos e Émile Durkheim
ao qual se opõe na definição e metodologia
da Sociologia.
Nos finais do século XIX e inícios dos século
XX, as teorias do público assinalavam a existência
de um fenómeno supra-individual intrinsecamente
colectivo, que todavia se realizava através de
agentes críticos empenhados na afirmação
da sua racionalidade. Em França, Tarde foi um dos
primeiros autores a sistematizar a História do
Público e as suas relações com a
multidão. Tarde, apesar de formular uma História
do Público, está interessado num estudo
sincrónico do público, sobretudo, nas formas
de interacção entre público e imprensa.
"É curioso que nem em latim nem em grego exista
uma palavra que corresponda ao que nós entendemos
por público" (L' opinion et la foule, PUF,
1989, p. 34). "O público, de facto, (...)
é uma multidão dispersa, onde a influência
dos espíritos uns sobre os outros [interpsicologia]
tornou-se uma acção à distância,
em distâncias cada vez mais grandes. (...)"
(idem p.30).
Le public et la foule (1898) é a primeira obra
de Tarde dedicada à formulação de
uma história e teoria do público. Neste
texto, o público surge inserido em essencialmente
em dois momentos interpsicológicos que enquadram
um paradigma de subjectividade e intersubjectividade:
1) Comunicação Unilateral de um indivíduo
no público através da invenção,
que contudo parte de um quadro imitativo preexistente
"(...) qualquer invenção, qualquer
descoberta, consiste num encontro mental de conhecimentos
já antigos e a maior parte das vezes transmitidos
por outro" (As leis da imitação, Rés,
s.d., p. 424). 2) Comunicação Recíproca
entre dois ou mais indivíduos que formam laços
sociais em função de uma coesão mental
por imitação ou confrontam excitações
comuns por oposição numa discussão
crítica. Invenção, imitação
e oposição estão presentes em graus
diferentes na reciprocidade intermental dos indivíduos
no público (intersubjectividade). A origem desta
teoria do público advém da posição
nominalista de Gabriel Tarde: a sociedade é um
facto social de imitação, na qual apenas
existem os indivíduos e as interacções
sociais.
Partindo deste paradigma, Gabriel Tarde analisará
em L' opinion et la conversation (1899) a interpsicologia
das relações recíprocas dos indivíduos
num esquema linear constituído por quatro factores:
notícias, conversação, opinião
e acção. Este texto possui grande parte
dos pressupostos que estão na origem das modernas
teorias da comunicação interpessoal e de
massas. Só assim se explica que Gabriel Tarde seja
considerado o pai fundador das Ciências da Comunicação
concepção defendida, entre outros, por Elihu
Katz.
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