Francisco Paiva

Yéru'salém celeste: acta est fabula



29 nov'47 - A ONU aprova o plano de partilha da Palestina. Sete meses depois é criado o Estado de Israel, que se expande sobre sarracenos.

Que os europeus, quase unanimemente, não estão de acordo com a política da Casa Branca para o Médio Oriente é um facto, mas qual é a consequência dessa opinião, por mais global que seja?
Tem Ariel Sharon algum tipo de imunidade inviolável que diferencie o seu exercício de repressão dos facínoras do holocausto?

Centro de peregrinação milenar para judeus, cristãos e muçulmanos, Jerusalém foi objecto de mistificação na iconografia ocidental, desde as catedrais de Chartres, Amiens e Reims aos programas das igrejas provinciais, à escultura monumental e teatros litúrgicos, quase invariavelmente relacionados com o tema do Juízo Final. Lugar santo, pejado de anjos e de arquitecturas outrora celesteais, Jerusalém ergue muros apocalípticos à perpetua pacis civitas entre as três grandes religiões monoteístas.

Devo dizer-vos que entrando no Judisches Museum de Berlim, passada a revista, e submergindo nos corredores desconstrutivistas de Daniel Libeskind, a História é potenciada. Aí, a instalação escultórica do Vazio da Morte, onde somos obrigados a pisar alegóricas faces humanas, anónimas, duras e frias bolachas de aço oxidado com buracos de olhos, nariz e boca, aí, repito, bem pode o povo de Israel penitenciar-se, considerando as vítimas dos seus actos. Porque os palestinos, podendo embora não ser dignos de atenção hagiológica, ou comparáveis áqueles ilustres cérebros aí museografados (banqueiros, músicos, literatos, etc.), são pessoas.

Sobre a vergonha das cimeiras com políticos de brincar e a diplomacia cúmplice parece-me pairar algo mais do que o epitáfio de Arafat.