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Yéru'salém celeste:
acta est fabula
29 nov'47 - A ONU aprova o plano de partilha da Palestina.
Sete meses depois é criado o Estado de Israel,
que se expande sobre sarracenos.
Que os europeus, quase unanimemente, não estão
de acordo com a política da Casa Branca para o
Médio Oriente é um facto, mas qual é
a consequência dessa opinião, por mais global
que seja?
Tem Ariel Sharon algum tipo de imunidade inviolável
que diferencie o seu exercício de repressão
dos facínoras do holocausto?
Centro de peregrinação
milenar para judeus, cristãos e muçulmanos,
Jerusalém foi objecto de mistificação
na iconografia ocidental, desde as catedrais de Chartres,
Amiens e Reims aos programas das igrejas provinciais,
à escultura monumental e teatros litúrgicos,
quase invariavelmente relacionados com o tema do Juízo
Final. Lugar santo, pejado de anjos e de arquitecturas
outrora celesteais, Jerusalém ergue muros apocalípticos
à perpetua pacis civitas entre as três grandes
religiões monoteístas.
Devo dizer-vos que entrando no Judisches
Museum de Berlim, passada a revista, e submergindo nos
corredores desconstrutivistas de Daniel Libeskind, a História
é potenciada. Aí, a instalação
escultórica do Vazio da Morte, onde somos obrigados
a pisar alegóricas faces humanas, anónimas,
duras e frias bolachas de aço oxidado com buracos
de olhos, nariz e boca, aí, repito, bem pode o
povo de Israel penitenciar-se, considerando as vítimas
dos seus actos. Porque os palestinos, podendo embora não
ser dignos de atenção hagiológica,
ou comparáveis áqueles ilustres cérebros
aí museografados (banqueiros, músicos, literatos,
etc.), são pessoas.
Sobre a vergonha das cimeiras
com políticos de brincar e a diplomacia cúmplice
parece-me pairar algo mais do que o epitáfio de
Arafat.
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